*Genival Mota
Ler é abrir presentes. Pessoas que não leem, ou leem muito pouco, é como se tivessem em casa vários presentes de nascença não abertos. É triste saber que você deu um presente e a pessoa que recebeu nem teve o interesse em abrir.
Temos à nossa disposição muitos presentes que nos foram “endereçados” mesmo antes de nascermos. Uns menores, outros maiores; uns mais simples, outros sofisticados; uns mais baratos, outros mais caros; uns mais interessantes, outros nem tanto; uns mais famosos, outros não muito badalados; uns nacionais, outros estrangeiros. Seja um abridor, uma abridora de “presentes” e desfrute de seus conteúdos!
Abra bons livros e se presenteie com informações que vão enriquecer sua vida. Isto é sinal de saúde mental. Implica em levar uma vida mais intensa e cheia de emoções.
Conforme o escritor peruano Mário Vargas Llosa, a literatura nos permite viver num mundo onde as regras inflexíveis da vida real podem ser quebradas, onde nos libertamos do cárcere do tempo e do espaço, onde podemos cometer excessos sem castigo e desfrutar de uma soberania sem limites.
A alegria em verificar o conteúdo dos presentes é que nos motiva a receber e presentear. A leitura coloca em nosso coração o desejo de seguir sempre em frente; em buscar um sentido para nossa vida.
E a literatura tem essa capacidade de provocar no leitor um estranhamento diante da realidade, como se a víssemos pela primeira vez, sob um prisma diferente. Esses desafios colocados pelos diferentes textos literários são cheios de personalidade de quem escreveu em busca da personalidade, individualidade, singularidade do leitor.
O livro fechado é apenas um bloco de papel. Aberto é um mundo de proposições. O livro fechado é apenas um objeto. Aberto, ganha vida e provoca reações as mais variadas.
Quando olhamos um livro na prateleira ele nos mira como um ser carente, como que dando as mãos e abrindo os braços. Depois é ele que nos abraça e afaga. Passa a tomar conta do nosso tempo. Ou melhor, passa a agregar valores a nosso tempo, a nossa vida.
Para Ezra Pound – poeta, teórico e crítico de literatura, norte-americano – a narrativa é a linguagem carregada de significado. Grande Literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível. A literatura não existe no vácuo.
Os escritores como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade. E são esses escritores que nos brindam com presentes e se os abrirmos e apreciarmos vão enriquecer nossa existência pra sempre.
Bons presentes, ótimas leituras pra você!
*Genival Mota, doutor em Letras pela UNESP, Mestre em Letras pela UEMS, formado em História e Jornalismo pela UFMS. Autor entre outros de: “O Menino que Ensina Omo Gostar de Ler”; “O Que Aprendemos com O Pequeno Príncipe”; “O Que Aprendermos com Alice no País das Maravilhas”; “A Caverna Ilu-minada”; Coração de Aprendiz; “Vagabundagens: romance que Manoel de Barros (não) escreveu”.