Por ERNANI FAGUNDES
A liberação dos volumosos recursos de crédito e de ajuda financeira, anunciados respectivamente pelo Banco Central e pelo Ministério da Economia na última semana, precisa ser mais rápida, afirma Luis Miguel Santacreu, analista responsável pela área de bancos da Austin Rating. Na visão dele, uma demora na disponibilização dos recursos poderá atrasar a retomada das atividades econômicas e dos investimentos.
“Vivemos uma nova realidade no Brasil desde a quarta-feira de cinzas. Tivemos uma senhora pancada no sistema financeiro e as soluções para a crise de saúde e econômica precisam ser mais rápidas”, diz o analista.
Santacreu não acredita que as medidas do Banco Central serão suficientes para as empresas. Além da liberação de R$ 1,2 trilhão em liquidez para o mercado, o BC também divulgou, na última sexta-feira (27), uma linha emergencial de R$ 40 bilhões para financiar dois meses de folhas de pagamentos para empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano.
“São medidas tímidas ainda. Só a liquidez não garante a retomada da economia real, é preciso que as empresas tenham recursos para pagar salários e fornecedores”, diz.
O analista contextualiza que houve um desaquecimento brutal da atividade econômica por causa da quarentena decretada em diversos estados do País para tentar conter o avanço da pandemia de coronavírus.
Santacreu diz que os bancos já estão se adaptando para a nova realidade. Porém, ele prevê retração no crédito e alta dos juros por aumento do risco de inadimplência se não houver uma ação mais efetiva do Banco Central e do governo federal.
O analista também sugere que o BC, assim como outras autoridades monetárias fizeram na crise global de 2008, possa comprar títulos de crédito corporativos.
Além de debêntures e notas promissórias de médias e grandes empresas, Santacreu diz que será preciso comprar carteiras de factorings, de fintechs de crédito, de duplicatas e recebíveis de cartões de micro e pequenas empresas.
“Isso tem que ser feito de forma rápida e criativa, talvez um fundo da Caixa Econômica Federal, para evitar uma quebradeira das empresas”, afirma.
Quanto ao arsenal de medidas, Santacreu voltou a citar que, na crise financeira global de 2008, os bancos centrais dos Estados Unidos, do Japão e da Europa se utilizaram de diversos instrumentos capazes de minimizar os impactos nos mercados.
“Os governos emitiram moedas, compraram carteiras de crédito de bancos e também títulos corporativos. Aqui, no Brasil, o BC também evitou uma crise bancária com a criação do DPGE (Depósito a Prazo com Garantia Especial). Esses instrumentos estão todos aí, disponíveis”, diz.
Embora ainda não tenha aprovação do Congresso para emissão de moeda (QE, quantitative easyng) ou para compra de títulos corporativos de dívida, o Banco Central do Brasil já listou oito medidas para garantir a solidez do Sistema Financeiro: novo DPGE; liberação adicional de depósitos compulsórios; flexibilização das regras de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs); empréstimos com lastro em debêntures; ampliação do limite de recompra de Letras Financeiras de emissão própria; não dedução do capital dos efeitos tributários decorrente de overhedge de investimentos em participações no exterior; BC como doador de recursos por até um ano em operações compromissadas com lastro em títulos públicos federais; e, redução do spread de nivelamento de liquidez.