A arte e costumes típicos dos povos indígenas e a beleza dos ipês amarelos, símbolo do cerrado e retrato da Capital sul-mato-grossense, são fonte de inspiração e se transformaram em peças de artesanato pelas mãos de artesãs de Campo Grande que ganharam destaque no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), no Rio de Janeiro. Indiana Marques e Isabel Muxfeldt participam da exposição “Casa do Brasil Central, do Cerrado ao Pantanal”, junto a outros profissionais das cidades de Bonito, Jardim, Corumbá, Miranda, Bodoquena e Três Lagoas, que representam Mato Grosso do Sul.
Os detalhes tornam as peças singulares da artista ceramista Indiana Marques e encantam pelo colorido, não só pela sua forma, mas, também, pela observação refinada dos costumes dos povos indígenas. Moradora de Campo Grande, ela começou a ter contato com as criações em cerâmica quando era bem pequena e morava na fazenda. “Aprendi vendo minha mãe em casa. Ela era formada em Belas Artes e fazia escultura com tudo: osso, pedra, etc. E a gente brincava com barro. Toda minha família trabalha com artesanato, mesmo tendo outras profissões”, contou.
Seu trabalho apresenta bustos, cabeças ou peças em corpo inteiro de mulheres indígenas, que fazem sucesso e permitem contar um pouco da cultura de Mato Grosso do Sul repassada pela história das aldeias do estado. “As índias estão inseridas nesse bioma do Pantanal e meu artesanato as representa, inclusive já conquistei prêmios internacionais com elas”, salientou.
Com o apoio do Sebrae/MS, desde a década de 1990, a artesã vem participando de rodadas de negócios e ampliou as possibilidades de vendas, passando a ter suas peças em diversas galerias, lojas de artesanato e de arte popular pelo país.
Outra profissional que representa a arte de Mato Grosso do Sul no CRAB é a artesã Isabel Muxfeldt, moradora de Campo Grande. Ela modificou o significado de “lixo”, ao transformar sacolas de cebola, batata, laranja, peças jeans, uniformes e até mesmo lona de caminhão em artesanato. Para colocar a ideia em prática, a artesã contou com o apoio do Sebrae/MS junto ao Senai em uma consultoria. A partir de então, Isabel passou a diminuir o tempo de produção e criar mais produtos. Foi assim que há cerca de quatro anos surgiu a empresa “Eco Linhas”, que cria acessórios como bolsas, lixeiras de carro, marca texto e necessaire.
“Somos um negócio de impacto social, que por meio do artesanato sustentável transforma resíduos em ecoprodutos. Trabalhamos com mulheres das comunidades e detentas do Estabelecimento Penal Feminino de Regime semiaberto, aberto e assistência às Albergadas de Campo Grande para confecção artesanal a partir de materiais de descarte”, explica. Para a exposição do Rio de Janeiro, Isabel diz que trabalhou com bolsas de embalagem de cebola, com galhos de ipê confeccionados com embalagem de laranja tingida no trançado pantaneiro para os galhos e com flores amarelas de embalagem de laranja.
Mas, a história de paixão da Isabel pelo artesanato vem desde a infância. Ao longo do tempo, ela diz que se tornou uma tarefa prazerosa e que passou a fazer da sua vida. Em 1983, quando chegou em Campo Grande, começou a atuar com o trabalho manual no Sesc e depois de 12 anos parou para se dedicar a um negócio da família. Aos 40 anos de idade, Isabel sentiu que precisava voltar à atividade que a deixava feliz e começou a viver de novo o artesanato. Em 2002, criou a Joias do Pantanal, uma empresa de biojoias em chifre lapidado que ficou no mercado por 12 anos. Com ela, Isabel conquistou o mercado de exportação e ganhou prêmios.
Do Cerrado ao Pantanal
A exposição gratuita, de curadoria de Renato Imbroisi, ocupa todas as galerias do térreo do CRAB e ficará aberta para visitação até outubro, de terça-feira a sábado, das 10h às 17h. O objetivo é divulgar o artesanato, tesouros naturais e comidas típicas de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. A ideia, segundo Imbroisi, é “levar o visitante a percorrer uma ‘casa’ que revele, pelos seus cômodos, tesouros naturais, objetos artesanais e a comida típica da região”.
Pelos cômodos da casa de 440m², o visitante poderá apreciar variados tipos de técnicas de artesanato. No quarto de dormir, uma cama cenográfica projetará imagens de tecidos, bordados e crochês, assim como mapas da região e pássaros, em vídeos de cinco minutos. Já na cozinha haverá painéis de frutos do Cerrado, cestos, panelas e tábuas de madeira. Ao longo do período da ocupação, o CRAB receberá eventos gratuitos de gastronomia, artesanato e turismo da região Centro-Oeste.
Sobre o CRAB
O Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), criado em março de 2016, em um prédio histórico da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, completa seis anos de atividades reforçando sua missão de promover o artesanato nacional e contribuir para qualificar a imagem dos produtos feitos à mão no Brasil.
Em suas galerias estão ou passaram importantes trabalhos de artesanato, revelando histórias, origens e territórios. Atualmente, abriga uma coleção de mais 1.500 itens de todos os tipos, que representam a expressão da cultura popular e da criatividade brasileiras. Entre as obras mais significativas estão algumas cerâmicas de Zezinha do Vale de Jequitinhonha (MG), de João Borges (Teresina-PI), João das Alagoas (Capela-AL), Maria Sil (Capela-AL) e as esculturas em madeira de Abelardo dos Santos (Ilha do Ferro-PI). No CRAB, o artesanato é valorizado como objeto de arte e de desejo.
Assessoria