Ricardo Campos Jr
O Brasil dificilmente cumprirá as metas de redução de carbono pactuadas para 2020. Esta é a conclusão a qual chegou o oitavo relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), divulgado nessa sexta-feira (6). Na verdade, o país aumentou em 9,6% o lançamento dessas substâncias ano passado, o que equivale a 2,17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono.
Análise contida no documento mostrou que o desmatamento, em especial na Amazônia, puxou o crescimento das emissões no último ano. Em grande parte, isso deve tanto à derrubada de vegetação para mudança de uso da terra quanto às queimadas que afetam as florestas ano após ano.
Este ano a situação foi ainda mais crítica, especialmente nas áreas alagadas, o que deve ajudar a concretizar a previsão ambiental negativa, conforme o advogado Arlindo Murilo Muniz, presidente da comissão do meio ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Mato Grosso do Sul (OAB-MS).
“Os relatórios apontam para o não cumprimento. Isso se deve ao ano atípico que tivemos com uma seca extrema e um avanço de queimadas absurdo. O avanço das queimadas se deve à falta de planejamento e não vejo em curto espaço de tempo as iniciativas corretas para não ocorram mais incêndios como no Pantanal e na Amazônia”, disse ao Correio do Estado.
Segundo ele, existem órgãos internacionais que podem ceder fundos ao Brasil para auxiliar na redução de emissão de gases, logo, recursos não são o principal problema. A questão é bem mais profunda e polêmica, girando em torno do avanço da fronteira agrícola.
“Há um equívoco a respeito disso no Brasil. O próprio setor agropecuário é contra. Nós temos milhares e milhares de hectares de áreas agricultáveis degradadas que são passíveis de recuperação para serem destinadas ao plantio ou criação de animais”, pondera.
Na visão de Muniz, o Brasil não é um país que está incluído na lista dos grandes emissores de carbono, já que não se encaixa no grupo dos grandes industrializados. Porém, é importante ter essa marca de sustentável.
“O nosso problema é a questão das queimadas. Entendo que o Brasil deveria manter a política de investimento em áreas degradadas para voltar a ter o olhar consumidor no mundo como um país de elevada preocupação ambiental. A política de avanço da fronteira agrícola é deletéria e não sei que interesses atende, mas não deveríamos estar seguindo nesta linha”, completa.