De Brasília
A bancada do PDT no Senado anunciou, ontem (14), apoio à candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à presidência da Casa, em decisão unânime de seus três senadores. Seguindo o mesmo posicionamento adotado pelo PT no início da semana, o PDT é a segunda sigla de esquerda a aderir ao nome de Pacheco, que é apadrinhado pelo atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e tem o apoio do Palácio do Planalto.
Em nota, porém, a bancada pedetista deixou claro que isso “não representa um alinhamento automático” às pautas defendidas por todos os outros partidos que aderiram à campanha do candidato mineiro.
“Em todas as conversas com o senador, o partido [PDT] deixou claro que não abre mão da defesa de temas que considera fundamentais e sempre fizeram parte de sua história de luta, como a manutenção do Estado Democrático de Direito, os ideais trabalhistas, a proteção à educação e saúde públicas de qualidade, o respeito aos direitos das minorias, com igualdade de oportunidades entre todos, independente do gênero, raça, credo ou origem, e a proteção dos mais vulneráveis”, diz a nota da bancada do partido, liderada por Weverton Rocha (MA).
O PDT acrescenta que o país “vive um momento difícil” e tem pela frente a tarefa “complicada” de “garantir a estabilidade institucional e democrática e preparar um clima saudável e equilibrado para as eleições de 2022”. Mesmo com o apoio do presidente Jair Bolsonaro ao nome de Pacheco, a bancada pedetista considera que o candidato “tem as melhores condições de liderança para exercer o papel de presidir a Casa”.
“O Senado terá um papel fundamental nesse desafio, como teve na contenção das sucessivas crises do turbulento ano de 2020. Para que o Parlamento cumpra com eficácia seu papel, sua condução precisa ser firme, independente, coerente, porém serena, madura e visando acima de tudo os interesses do país. O PDT considera que o senador Rodrigo Pacheco reúne as características acima citadas”, diz o comunicado.
Adversária
Rodrigo Pacheco tem como principal adversária, para a eleição de 1º de fevereiro, a senadora Simone Tebet (MS), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa, indicada nesta semana como candidata do MDB.
O parlamentar mineiro, com o anúncio do PDT, passa a ter uma base de apoio de oito partidos, que reúnem 41 votos, exatamente o mínimo necessário para a vitória em 1º turno. As outras siglas que aderiram a sua campanha são PSD, Pros, PP, PL, PT, PSC e Republicanos.
Pacheco conta também com quatro votos junto ao PSDB, que liberou sua bancada, e mais dois do Podemos, cuja maioria decidiu embarcar na campanha de Simone Tebet. Dessa forma, o candidato do DEM deve reunir perto de 47 votos. Porém, como a votação será secreta e é grande o trabalho de convencimento dos candidatos junto aos senadores, ambos os lados em disputa temem traições nas urnas.
A adesão de partidos de oposição ao candidato apoiado pelo Palácio do Planalto é um dos fatores que mais têm chamado a atenção na corrida pela presidência do Senado. O que ajuda, em parte, a explicar essa situação inusitada é o fato de a aliança do PT e do PDT com Pacheco ficar restrita à sucessão na Casa, não se estendendo a outros tipos de entendimento. Estão em jogo, por exemplo, o compromisso com a votação de propostas legislativas e assentos na Mesa Diretora e em comissões importantes do Senado.
“Garantista”
No caso de Rodrigo Pacheco, têm pesado a favor do candidato, junto aos partidos de esquerda, o fato de ele ter um perfil considerado independente e sua experiência em comissões da OAB de Minas Gerais e na diretoria da entidade. Para essas siglas, o parlamentar é visto como um “garantista”, contraponto à Lava-Jato e a outras operações anticorrupção.
Já os senadores lava-jatistas, integrantes do movimento suprapartidário “Muda, Senado”, estão embarcando na candidatura de Simone Tebet. O grupo é formado por parlamentares do Podemos, PSDB, PSL, Cidadania e Rede — não a bancada inteira dessas siglas — e tem o combate à corrupção como principal bandeira.
Tebet não é integrante desse movimento e não defende todas as suas pautas, mas é vista como capaz, bem articulada entre os diferentes partidos e independente em relação ao Executivo. Para esses senadores, a eleição da parlamentar de Mato Grosso do Sul seria um avanço em relação ao grupo de Alcolumbre. O atual presidente do Senado, ao longo de sua gestão, foi alvo de críticas dos colegas lavajatistas, que o acusam de ter barrado a abertura da CPI da Lava Toga, que investigaria irregularidades no Judiciário, e pedidos de impeachment contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). (Correio Braziliense)