Estadão Conteúdo
Escalado para coordenar as ações do governo sobre o coronavírus, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, é tratado em alas militares como “interventor” do Palácio do Planalto. Um dos generais que convenceram o presidente Jair Bolsonaro a não demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Braga Netto agiu nesta terça-feira para baixar a temperatura do atrito.
“A palavra união é a posição do governo”, disse ele, em entrevista ao lado de Mandetta. “Vamos tocar esse barco chamado Brasil juntos”, concordou o titular da Saúde.
Bolsonaro chegou a planejar demitir Mandetta anteontem, mas recuou diante de pressões de militares, do Congresso e até do Supremo Tribunal Federal. Isso sem contar o apoio obtido pelo ministro nas redes sociais.
Militares do governo avaliam que a dispensa de Mandetta, neste momento, fortaleceria governadores que travam uma queda de braço com Bolsonaro, como João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio).
Nesse cenário, o chefe da Casa Civil assumiu a função de “gerente” do governo. “Braga Netto é o homem certo, no lugar certo, na hora certa”, disse ao Estado o vice-presidente, Hamilton Mourão, alvo de críticas do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e de seus seguidores nas redes sociais.
A ala ideológica do governo e o chamado “gabinete do ódio”, comandado por Carlos, “filho 02” do presidente, desaprovam o poder concedido aos militares na equipe e, agora, na administração da crise. Braga Netto, no entanto, disse não se aborrecer com os ataques e continua dando ordens aos colegas, até mesmo em bilhetinhos que passa para ministros durante entrevistas no Planalto.
Diante de novo fogo amigo, coube ao general Mourão defender Braga Netto. “Ele não está enquadrando ninguém, apenas fazendo a verdadeira governança. Assim, a Casa Civil passa a atuar como um verdadeiro centro de governo”, resumiu o vice. “Braga Netto está fazendo o que sabemos: colocar ordem na casa.”
Na semana passada, circularam rumores de que o ministro da Casa Civil seria o nome escolhido por uma Junta Militar para assumir o comando do País, deixando Bolsonaro como uma espécie de “rainha da Inglaterra”. A versão ganhou força nas redes sociais, a ponto de usuários alterarem o dicionário online colaborativo Wikipédia para apontar Braga Netto como o 39.º presidente do Brasil. A mudança, porém, foi desfeita assim que o site a identificou.
A tese da “conspiração” é alimentada por filhos do presidente, que têm Mourão entre seus alvos. Ao jornal O Estado de S.Paulo, porém, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas foi enfático: “Ninguém tutela Bolsonaro”.
‘FREIO’
Ex-interventor na segurança pública do Rio em 2018, nomeado pelo então presidente Michel Temer, Braga Netto é conhecido pelo estilo “durão”. Nos últimos dias, tem tratado de assuntos diversos: da crise com Mandetta a discussões econômicas.
Na Casa Civil há quase dois meses, o general ainda faz substituições na pasta, antes chefiada por Onyx Lorenzoni, hoje ministro da Cidadania. O núcleo militar do governo considera que, por não ter aspiração política – ao contrário de Onyx -, Braga Netto vai impor rapidamente um “freio de arrumação” na equipe.