Por Silvio Andrade
O Pantanal deverá passar por mais um período de seca este ano, na mesma proporção ou ainda mais intenso do que o de 2020.
Com exceção de algumas regiões mais baixas em Corumbá, onde as águas dos rios Aquidauana e Miranda inundaram os campos em uma “cheia” rápida – as vazantes correm forte para o Rio Paraguai –, as chuvas de outubro a março na parte alta (ao norte) não foram suficientes para recuperar o ciclo natural das águas.
A previsão soa como um alerta para a tomada de decisões por parte do governo, em todos os níveis, visando a preparação antecipada da logística para o enfrentamento aos incêndios florestais, que no ano passado devastaram mais de 4,3 milhões (29%) de hectares do bioma.
Onde o fogo mais queimou, entre Corumbá e Poconé (MT), a lenta recuperação dos níveis dos rios ao longo da calha do Rio Paraguai mantém o solo e a vegetação como pólvora.
Nesta região, que compreende grandes extensões de campos e de matas sem a presença do homem e do boi, corredor de uma rede de reservas ambientais que somam 270 mil hectares, o volume de chuvas foi inferior às médias anuais.
Há previsão de precipitações em toda a bacia, com maior incidência na área crítica, porém a estação chuvosa chega ao fim. O Rio Paraguai está em 3,40 metros em Cáceres (MT), um metro a menos em relação ao mesmo período de 2020.
CENÁRIO PREOCUPA
O comportamento hídrico do alto Pantanal influencia as regiões de Paiaguás, Taquari e Nhecolândia, onde os fazendeiros estão construindo poços artesianos e, sem rede elétrica, investindo em placas solares para movimentar maquinários.
O Sindicato Rural de Corumbá pediu ao governo do Estado a abertura de estradas entre os portos do Alegre e de São Pedro e algumas fazendas, para facilitar o acesso dos bombeiros em caso de incêndios.
“Estamos observando que todo empenho de algumas ongs e outras iniciativas não governamentais em favor da conservação do Pantanal, com aquisição de equipamentos de combate ao fogo e formação de brigadas, está direcionado apenas para proteger as unidades de conservação”, aponta o presidente do sindicato, Luciano Leite.
“Vamos ter mais um ano difícil, talvez pior do que em 2020, e devemos nos preparar desde já”, cobra.
Com a previsão de o Rio Paraguai não atingir 2 metros em Ladário – está oscilando há uma semana entre 1,82 m e 1,84 m –, os operadores da hidrovia também intensificam os carregamentos de minério de ferro para exportação, antecipando-se a um novo colapso do transporte fluvial, o que deve ocorrer a partir de setembro e outubro.
O rio continuará subindo lentamente, mas logo começa o período de vazante e os níveis estarão próximos a zero novamente.
A “CHEIA” DO MIRANDA
O atual nível do rio em Ladário está abaixo da média dos últimos cinco anos (e semelhante ao de 2020). A régua situada na base da Marinha é referência para os estudos hidrológicos da bacia. “Mesmo que ainda chova em abril, já estaremos entrando no período seco, que acontece todo ano.
Então teremos seis meses de poucas chuvas se comparados ao período chuvoso, que começa em outubro”, explica Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal.
O prognóstico coincide com o último boletim divulgado pelo Sistema de Alerta de Eventos Críticos (Sace), do Ministério de Minas e Energia, que monitora as bacias hidrográficas do Brasil e aponta que o rio se manterá estável (máximo de 1,87 m) no mês. Nessa mesma régua foi registrada a maior cheia do Pantanal, em abril de 1988: 6,64 m.
A última grande enchente ocorreu em 2018, causando prejuízos de R$ 280 milhões, segundo a Embrapa.
A escassez dramática de água é interrompida momentaneamente na planície com o transbordamento dos rios Aquidauana e Miranda na região que abrange a Estrada Parque (MS-184) e o Rio Paraguai, entre os pantanais da Nhecolândia, de Abobral e de Nabileque, em Corumbá.
A água escorre pelos campos em grande velocidade, recompondo lagoas e atraindo os animais. O Rio Abobral, que secou em 2020, também ressurgiu com águas do Miranda.