Estadão Conteúdo
O Líbano recebeu na manhã desta quinta-feira, 2, um pedido de prisão da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) contra Carlos Ghosn, afirmou Albert Serhan, ministro da Justiça libanês, à agência de notícias oficial do país, a NNA.
Apesar de não ter autorização para emitir mandados de prisão e iniciar investigações ou processos, o órgão pode ser acionado pelos países-membros e tribunais internacionais para a publicação de “alertas vermelhos”. Esses avisos de busca internacional são baseados em mandados de captura nacionais, cujas informações são transmitidas aos outros membros por meio de um banco de dados seguro.
Como parte dos países-membros da Interpol desde 1949, o Líbano conta com um escritório nacional do órgão em Beirute. Uma de suas funções é promover a aplicação de leis no país, através de informações compartilhadas entre a rede de escritórios por 194 países ao redor do mundo. Até o momento, não foi divulgada a localização exata de Carlos Ghosn no país.
Segundo agências de notícias, o governo libanês ainda não tomou uma decisão sobre o que vai fazer em relação ao pedido da Interpol. Em casos anteriores, quando o Líbano recebeu comunicados da Interpol relativos a residentes no país, os suspeitos tiveram seus passaportes confiscados, além de terem de pagar uma fiança. Eles não foram, no entanto, detidos.
Em entrevista, o ministro da Justiça libanês afirmou que o governo vai “cumprir suas obrigações” em relação ao alerta da Interpol, sugerindo que ele poderá ser questionado. Mas reforçou que o Líbano e o Japão não têm acordo de extradição. Por isso, disse, está fora de questão de que o país vá entregar o ex-todo-poderoso da Nissan às autoridades japonesas.
Serhan, conhecido pelo estilo descontraído, disse que poderá examinar as acusações contra Carlos Ghosn, em respeito às autoridades japonesas. Segundo ele, uma decisão sobre a abertura de um processo caberá à Justiça libanesa. Um julgamento – e uma possível absolvição – no Líbano seria, de acordo com fontes ligadas ao caso Renault-Nissan, uma das chances para o executivo tentar limpar seu nome.
Conexão na Turquia
Mais cedo, as autoridades da Turquia já haviam prendido sete pessoas suspeitas de ajudar o ex-CEO da aliança Renault-Nissan a chegar ao Líbano na segunda, 30, após sua fuga do Japão, onde servia prisão domiciliar e aguardava julgamento.
De acordo com a agência de notícias DHA, entre os detidos estão quatro pilotos suspeitos de auxiliar Ghosn a viajar a partir de um aeroporto em Istambul, onde ele chegou em um voo procedente do Japão. O ministério do Interior iniciou uma investigação para determinar as condições nas quais o empresário brasileiro conseguiu transitar pela capital econômica da Turquia, informou o canal NTV.
A fuga de Ghosn do Japão, onde o executivo foi acusado de fraude financeira e estava sob detenção domiciliar após passar 130 dias na prisão, representou uma mudança espetacular no caso, que envolve um dos principais executivos da indústria automobilística.
A suspeita é de que Ghosn tenha embarcado em um jato privado no aeroporto de Kansai. Um avião deste tipo decolou em 29 de dezembro às 23h (horário do Japão) com destino a Istambul, segundo a imprensa japonesa.
O jornal turco Hürriyet informou que Ghosn pousou no aeroporto Ataturk, atualmente fechado para voos comerciais, mas ainda utilizado por aeronaves privadas. Dali, ele teria partido para o Líbano pouco tempo depois, em outro jato.
Ghosn mantinha 2º passaporte francês
Nesta madrugada, uma fonte ligada ao caso afirmou à agência AFP que Ghosn mantinha um segundo passaporte francês em uma mala, que carregava trancada. A chave que garantia acesso ao documento ficava na posse de seus advogados. Além deste, o empresário tinha outros três passaportes, referentes à sua tripla cidadania: um brasileiro, um libanês e outro francês.
Uma autorização excepcional do tribunal permitia que ele ficasse com um dos dois passaportes franceses trancados em uma mala, que estava em sua posse. O documento servia como visto de curta duração no Japão e ele precisava utilizá-lo em seus deslocamentos internos.
Em comunicado oficial, a França informou que não pretende extraditar Ghosn caso ele chegue ao País. “Se o senhor Ghosn chegar à França, não iremos extraditá-lo porque a França nunca extradita seus cidadãos”, disse a secretária de Estado da Economia e Finanças, Agnès Pannier-Runacher, ao canal BFMTV. Ainda assim, o governo considera que Ghosn “não deveria ter escapado do sistema de justiça japonês”. “Ninguém está acima da lei”, declarou a secretária.
O empresário também é investigado no país, mas nenhuma acusação foi apresentada até o momento./ AFP, EFE e REUTERS