Menos de oito meses após receber um investimento de US$ 22 milhões, empresa leva um dos maiores aportes do ano e foca em crescimento
Vale alimentação, vale transporte e benefícios de saúde são alguns dos itens que mais atraem um funcionário para uma empresa, segundo uma pesquisa da consultoria Bain & Company. Por outro lado, as companhias costumam ter pouca flexibilidade em relação à forma com que seus trabalhadores podem fazer uso deles — a troca de vale refeição por vale alimentação, por exemplo, pode ser uma dor de cabeça para o RH.
É algo, porém, que a startup Flash quer mudar. E para isso, ela está com o caixa reforçado: a empresa anuncia nesta quarta, 9, que levantou um investimento de US$ 100 milhões, em rodada liderada por Battery Ventures e WhaleRock. O cheque chega pouco mais de oito meses do último aporte da companhia, de US$ 22 milhões.
Fundada em 2019 por Ricardo Salem, Guilherme Lane e Pedro Lane, a Flash surgiu querendo resolver um quebra-cabeças complexo: diferentes pessoas têm necessidades variadas em relação aos benefícios de seus empregadores — e quase nunca há flexibilidade para usá-los.
A startup conseguiu criar um sistema para transformar o cartão de refeição em um voucher flexível para restaurantes e supermercados, por exemplo. Geralmente, se um funcionário prefere a tradicional ‘marmita’ trazida de casa a almoçar em um restaurante próximo a empresa, o vale refeição dele não funciona para comprar alimentos em supermercados — e, muitas vezes, a solução no caso era recorrer aos ‘ticketeiros’, estabelecimentos que compram os créditos do cartão, descontando uma porcentagem do valor total.
A aposta da Flash para crescer é oferecer uma troca sem custos para as empresas que utilizam o serviço. Como uma emissora de cartão, a plataforma monetiza em cima das transações feitas no seu cartão próprio ou nos de parceiros. Assim, a receita entra sem precisar repassar custos para os clientes — Salem acredita que esse é um dos principais pontos de atração.
A opção de software de gerenciamento — chamada Flash Point — é a única que requer uma assinatura paga por cliente, e oferece diversos módulos da plataforma para acompanhar e adicionar serviços aos funcionários como a ativação de depósito de prêmios ou de incentivos, por exemplo, que são bonificações que não necessariamente fazem parte do rol de benefícios gerais da companhia.
Setor aquecido
O segmento de benefícios corporativos está quente. Nos últimos anos, as chamadas hrtechs, startups de serviços de recursos humanos, têm visto cheques robustos entrarem no bolso. Entre 2020 e 2021, o setor captou cerca de US$ 1,69 bilhão, de acordo com dados da empresa de inovação Distrito. Uma das gigantes da área, a Gympass, que oferece benefícios de bem estar, como academias, recebeu US$ 220 milhões no ano passado e é dona do status de primeiro unicórnio (startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão) do setor, conquistado em 2019.
Até o momento, o caminho da Flash tem tido bons frutos. Com o aporte, a empresa cravou um dos maiores investimentos recebidos por startups brasileiras em 2022, figurando no top-5 do cenário de inovação. O ambiente das startups bilionárias parece ser um nicho pelo qual a Flash transita com naturalidade. Entre os seus clientes estão VTEX, Neon, Loggi e MadeiraMadeira.
Para Gilberto Sarfati, professor da Fundação Getúlio Vargas, o investimento não só revela a força do setor, mas evidencia uma nova dinâmica de operação das empresas em um cenário no qual o trabalho híbrido e remoto ganham cada vez mais lugar na vida dos funcionários — o resultado é uma oferta mais ampla e complexa de benefícios.
Expansão
Apesar do crescimento em seu serviço no Brasil, a Flash acredita que ainda não é hora para focar em uma internacionalização. Rota quase unânime das startups brasileiras, a América Latina faz parte dos planos de expansão, mas a startup ainda encontra uma barreira latente no setor corporativo: a regulamentação.
Para produtos financeiros, o caminho para entrar em novos países passa por se adequar às leis e ao funcionamento do mercado exterior, com diferença nas formas de transação, moeda e mesmo de aceitação na operação do país por órgãos federais. No caso da Flash, o muro que separa a empresa do restante da América ainda encontra mais uma camada, que é entender e se adaptar à forma na qual as empresas estrangeiras operam sistemas de benefícios.
Com os pés no Brasil, a Flash tem sido consistente no plano de fazer a marca se tornar mais conhecida, ao mesmo tempo em que desenha novos produtos de software e de serviço — tudo isso deve gerar contratações para o time que já conta com 320 funcionários.
Por Bruna Arimathea