Após testar três ferramentas, partido escolhe novo aplicativo para concluir votação e espera anunciar vencedor ainda hoje
SÃO PAULO e BRASÍLIA — Em meio ao acirramento da crise interna causada pela pane tecnológica que gerou a paralisação das prévias no último domingo, o PSDB vai tentar, hoje, pela segunda vez em uma semana, escolher seu pré-candidato à Presidência da República. Depois de testar três aplicativos para a votação remota, a empresa BeeVoter foi selecionada. O partido espera apresentar o vencedor da consulta interna no início da noite de hoje.
Na madrugada de ontem, o novo sistema passou por testes técnicos, acompanhados pelas equipes dos três candidatos: Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria. Na semana passada, os eleitores do partido usaram uma ferramenta desenvolvida pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs). O aplicativo funcionou por uma hora e depois entrou em pane. Ao longo da semana, foram testadas soluções das empresas RelataSoft e Eleja.
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, ironizou a confusão das prévias e disse que pelo menos o PSDB sai “muito conhecido”.
— Não tem esse problema na escolha do candidato (Sergio) Moro porque não tem prévias no Podemos. Não tem esse problema no aplicativo de Ciro Gomes, porque não tem prévias no PDT. Não tem problema na apuração dos votos do PT, porque não tem prévias com o Lula. Não há problemas no aplicativo do PL, para onde Bolsonaro vai — listou Araújo.
Maior segurança
Pesquisadores de sistemas eleitorais eletrônicos ouvidos pelo GLOBO afirmam que o sistema de votação da BeeVoter é mais seguro que o aplicativo da Faurgs, que não atendia aos protocolos de segurança mais difundidos no mercado cibernético. A Faurgs sugeriu, na quarta-feira, que seu sistema foi alvo de hackers. Segundo a empresa, o aplicativo tinha capacidade para receber o tráfego de cerca de 40 mil eleitores do colégio eleitoral tucano, mas teve muito mais acessos.
É consenso entre os estudiosos de segurança cibernética que os sistemas mais seguros contam com diversas camadas de segurança contra hackers, com criptografia e a chamada verificação “fim-a-fim”. O sistema que o PSDB utilizará hoje atende somente parte destes requisitos. Ainda assim, entende-se que é o suficiente para que a eleição transcorra sem problemas.
— Entre os que existem no mercado, considero que o sistema escolhido pelo partido é o melhor — afirma Jeroen van de Graaf, professor do Departamento de Ciências da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais.
Não foi por acaso, porém, que o PSDB contratou a Faurgs para desenvolver o aplicativo que custou ao menos R$ 1,2 milhão. O partido fez um chamamento público no início do ano para desenvolver um sistema de votação por biometria facial. A USP e outras universidades chegaram a ser sondadas, mas avaliaram que seria arriscado fazer o serviço num prazo tão curto: cerca de quatro meses. A Faurgs foi a única que aceitou. A ideia do PSDB era que o aplicativo ficasse como legado para outras siglas.
A biometria facial ainda gerou outro complicador. As imagens cadastradas pelos eleitores precisavam ser checadas manualmente. O partido contratou 20 pessoas para conferir todos os 44.700 cadastros e verificar se a foto batia com as imagens da documentação do filiado. Foram excluídos, por exemplo, cadastros feitos com imagens de personagens humorísticos e de órgãos sexuais. O aplicativo da BeeVoter usa outra tecnologia para garantir a identidade dos usuários.
Após o anúncio de que a eleição será retomada a partir das 8h de hoje, Doria e Leite ampliaram o esforço de ligar para mandatários que não votaram domingo passado. A eleição deve seguir até as 17h, e a expectativa é que o PSDB anuncie, duas horas depois, o vencedor, que terá o desafio de construir a unidade do partido após uma semana de ataques e denúncias.
Cronologia da votação tucana
Primeiro turno
A votação começou no domingo passado. Em Brasília, mandatários puderam votar presencialmente em urna eletrônica. Esses votos foram computados normalmente. Quem não conseguiu viajar, teria que votar pelo aplicativo, que entrou em pane.
Votação paralisada
Devido às falhas que impediram a votação de cerca de 40 mil pessoas, inclusive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não havia viajado a Brasília, o PSDB suspendeu a votação até que fossem resolvidos os problemas técnicos.
Novas empresas
Como a Faurgs, responsável pelo aplicativo, não conseguiu resolver a pane, o PSDB decidiu testar outras empresas: RelataSoft, Eleja e BeeVote, que acabou sendo escolhida para retomar o processo hoje.
Gustavo Schmitt e Natália Bosco