Gaby Amarantos diz que ganhou dois presentes em um: seu primeiro papel como atriz em uma novela – em Além da Ilusão, nova trama das seis da Globo – e a música tema da abertura do folhetim, a canção Tic Tac do Meu Coração. A paraense que já faz sucesso como cantora e como apresentadora do Saia Justa (GNT), encara a empreitada de forma serena e vê uma oportunidade de mostrar, por meio da personagem, a história de vitória de uma mulher negra e fora dos padrões magérrimos de beleza.
“A Emília vai mostrar que o que importa é o talento dela e não o tamanho do seu corpo”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista.
Você é cantora e apresentadora. Como se preparou para essa nova etapa profissional como atriz?
A minha primeira aspiração artística, desde criança, era ser atriz. Fiz parte de companhias de teatro, atuei na igreja, fiz cursos… Só que a música me arrebatou de tal forma que não teve espaço para mais nada durante um tempo. Mas eu sempre dizia pra minha equipe que eu sou um polvo, tenho vários braços e a atriz teria o momento dela.
O seu último trabalho, o álbum Purakê, toca na questão do meio ambiente. Esse tema é muito presente na sua vida?
O meio ambiente está dentro de mim. Nasci dentro da floresta, tenho a sorte de ser filha de ribeirinhos amazônicos. Eu atravessava o rio e nadava com os botos. Friso muito essa conexão nos meus trabalhos, a gente tem que falar muito sobre isso.
O que acha da atuação do governo neste tema?
Péssima, né? Não tem atuação. As pessoas estão querendo que troque de presidente pra poder falar de preservar a nossa floresta, que está totalmente abandonada. Estou muito preocupada com o Rio Tapajós, que foi invadido por uma água turva. E ali está o maior aquífero de água potável do planeta.
Quando você teve seu primeiro sucesso, em 2012, não era comum ver mulheres que não fossem super magras em capas de revista, campanhas de publicidade. E isso vem mudando de uns tempos pra cá. Como analisa a questão?
Olha, estamos num caminho muito longo. Começamos a falar de fato nesse assunto de uns três, quatro anos pra cá. A Emília, minha personagem da novela, é muito legal porque vai mostrar que o tamanho do corpo dela não importa, o que importa é o talento, aquilo em que acredita. Acho que ainda estamos muito longe de entender completamente como essa questão de padrão nos prejudica. Mas tem progresso sim, vemos isso na televisão, até no elenco da novela em que eu estou, por exemplo.
Antes, nas novelas, os papéis para negras eram os de empregadas domésticas ou escravas.
Isso não vai mudar de uma hora para outra. No caso específico das novelas existe a questão de ter que retratar a época. Assim, os negros serão colocados como escravos porque eram os negros os escravizados. Mas já começamos a ver as narrativas sendo contadas com finais diferentes, com revolta. Isso serve pra mostrar que a gente não esteve naquele lugar passivamente.
Ainda há espaço para evolução.
Sim. Existem muitos veículos de comunicação que ignoram a existência de gente preta. A Globo tem feito um papel nesse sentido que eu vejo com bons olhos. Essa também é umas das razões pelas quais eu quis fazer a Emília. A trajetória dela é uma trajetória de poder. Acho que, com erros e acertos, nós vamos caminhando para um lugar melhor.
Você é uma mulher que fala abertamente sobre a sua sexualidade. Qual a importância disso na sua vida?
Sou uma mulher que tem uma energia sexual muito forte. Para eu poder me sentir inteligente, pra eu poder me sentir viva, pra eu levantar da cama e fazer uma caminhada, tomar um banho de rio ou até fazer uma personagem linda como a Emília, eu preciso desse combustível da sexualidade, de ter tesão pela vida. A energia sexual me move. Isso faz com que a gente se ame.
Por Marcela Paes