Premiação na categoria principal ainda está incerta, mas, entre os atores, Will Smith, Ariana DeBose e Troy Kotsur podem preparar os discursos
Com a maioria dos prêmios dos sindicatos entregues, dá para ter uma boa ideia de quem vai ganhar o Oscar no domingo, certo? Mais ou menos.
Ataque dos Cães, de Jane Campion, vinha dominando as previsões desde sua estreia no Festival de Veneza, em setembro. Belfast, de Kenneth Branagh, foi durante um tempo uma grande ameaça, mas perdeu força no caminho. Enquanto isso, correndo por fora, veio um filme pequeno, com orçamento estimado em apenas US$ 10 milhões, que estreou lá em janeiro do ano passado, em Sundance: No Ritmo do Coração, de Siân Heder.
Vamos começar com as barbadas. Ataque dos Cães ganhou o Critics Choice de filme e direção, o BAFTA de filme e direção e o prêmio do Sindicato dos Diretores (Directors Guild of America, DGA) nas últimas semanas, além do Globo de Ouro lá em janeiro. Se Jane Campion perder o Oscar de direção, vai ser a maior zebra. Por quê? Nos últimos 15 anos, o vencedor do DGA só não levou a estatueta de direção duas vezes: em 2012 e 2019, quando Ang Lee (As Aventuras de Pi) e Bong Joon-ho (Parasita) tiraram o Oscar das mãos de Ben Affleck (Argo) e Sam Mendes (1917).
Entre os atores, os prêmios do sindicato (Screen Actors Guild, SAG) são bons indicativos dos vitoriosos na noite do Oscar. Nos últimos 15 anos, só Chadwick Boseman (ano passado, por A Voz Suprema do Blues) e Denzel Washington (Um Limite Entre Nós) ficaram sem Oscar de ator depois de ganharem o SAG, perdendo para Anthony Hopkins (Meu Pai) e Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar) respectivamente. Ou seja, Will Smith (King Richard: Criando Campeãs) deve levar, até porque ele também ganhou o BAFTA, o Critics Choice e até o Globo de Ouro.
No caso das atrizes, a coisa se complica: cinco atrizes nos últimos 15 anos enfeitaram suas estantes com o SAG, mas não com o Oscar. Em um ano especialmente concorrido, a vitória de Jessica Chastain (Os Olhos de Tammy Faye) no SAG e no Critics Choice não necessariamente carimbam seu Oscar.
As coisas parecem mais definidas entre os coadjuvantes. Ariana DeBose (Amor, Sublime Amor) ganhou SAG, BAFTA, Critics Choice e Globo de Ouro. Troy Kotsur (No Ritmo do Coração) também levou todos, menos o Globo de Ouro. Os dois, portanto, devem fazer história no domingo: ela como a primeira afro-latina e primeira atriz abertamente queer, ele como primeiro ator surdo.
Quando o assunto é roteiro original e adaptado, os prêmios do sindicato (Writers Guild of America, WGA) não são tão bons para prever os vencedores. Por causa de suas regras, muitos não podem concorrer – Belfast, por exemplo, é um deles. Então o troféu para Não Olhe para Cima como melhor roteiro original pode não significar muito. E seria o mesmo com No Ritmo do Coração, não fosse sua coleção de prêmios nas últimas semanas: WGA de roteiro adaptado, o BAFTA de roteiro adaptado, o SAG de elenco e, principalmente, o PGA
O PGA é o troféu do Producers Guild of America, ou o sindicato dos produtores. Desde 2009, apenas três filmes que ganharam este prêmio não levaram o Oscar de melhor produção do ano: A Grande Aposta em 2016, La La Land – Cantando Estações em 2017 e 1917 em 2020. E mais: nos últimos 12 anos, nenhum longa que levou o SAG de elenco e o PGA não ganhou também o Oscar de melhor filme.
Por que o PGA é tão bom assim para prever o vencedor do Oscar principal? Porque adota o mesmo sistema, de votação preferencial. Ou seja, cada eleitor coloca os dez filmes indicados ao Oscar em ordem de preferência. O que tiver mais votos na posição 1 só leva se tiver 50% das cédulas +1. Sendo assim, tendem a ganhar aqueles que têm mais votos nas posições 2 e 3.
Outro ponto a favor de No Ritmo do Coração é que costumam ser vitoriosos os filmes que conquistam o… coração. Ou seja, que apaixonam. Independentemente da qualidade artística e técnica de cada um, é isso o que explica em grande parte os Oscars de melhor filme para Moonlight – Sob a Luz do Luar, A Forma da Água, Green Book: O Guia e até de Parasita. Ataque dos Cães é visto mais como uma obra admirada do que amada.
A reviravolta, porém, pode vir do exterior. Hoje, estima-se que cerca de 25% da Academia seja formada por estrangeiros. E, entre eles, No Ritmo do Coração parece ter menos força, abrindo espaço para que Ataque dos Cães ganhe o Oscar de melhor filme. A não ser, claro, que apareça uma terceira via.
Por Mariane Morisawa