Quando me perguntam se faço algum tipo de trabalho, primeiro eu respondo que faço. E depois vou examinar, mais detalhadamente, se eu, de fato, já sei fazer aquilo. Quase sempre, só neste exame, já aprendo algo. Quase sempre é assim.
Toda semana eu faço, para meus clientes, mesmo nos trabalhos que costumo fazer sempre, alguma coisa que nunca fiz antes. Converso com pessoas com quem nunca falei na vida, conecto-as com outras que poderiam ser úteis a elas. Tento ser curioso, manter a mente de iniciante.
“Posso fazer” são duas palavras mágicas que, de saída, nos colocam no compromisso de aprender a fazer algo. No plano pessoal, é dinamite na rotina. No plano empresarial, choque na inércia. Com grandes ideias, inclusive, funciona assim.
Netflix e Google foram, um dia, pontos quase imperceptíveis no radar de Blockbuster e Yahoo — que inclusive tiveram chance de comprá-los (a preço de banana). E por que não o fizeram, podendo deixar que esses então pequenos pulsantes acelerassem seus batimentos corporativos? Porque, mesmo com idades diferentes, não quiseram arriscar por um caminho que nunca haviam tomado. (O que prova que a questão não é de idade, mas de mentalidade.)
Aprendi com um cliente meu que metas gigantes precisam ser quebradas em partes. Isso é estratégia. E vale muito para os desafios que não temos ideia de como concretizar: se você não se considera apto a aprender a falar mandarim, experimente tomar um tempo para conhecer uma palavra de cada vez.
Inteligência é o que a gente faz quando não tem ideia do que fazer, e o exercício de decidir sem consultar manuais é um dos passos mais próximos da filosofia de Peter Drucker de que, melhor que prever o futuro, é criá-lo. Dizer “nunca fiz, mas posso fazer”, nos liberta da armadura do medo. E nos coloca em posição de dar um molde pessoal à camada de desafios do mundo.
Por Cassio Grinberg