Voltada ao mercado editorial, maior feira de livros infantis do mundo termina em Bolonha
Houve um tempo em que a Melhoramentos participava de feiras internacionais e todo o interesse dos editores estrangeiros era voltado a José Mauro de Vasconcelos (Meu Pé de Laranja Lima) e Ziraldo (primeiro O Menino Maluquinho e depois os demais). Eles seguem sendo procurados – também literalmente: a gerente editorial Viviane Maurey conta, enquanto conversa com o Estadão, que tinham levado o exemplar de Meu Pé de Laranja Lima de sua estante, restando só a adaptação em HQ. Mas hoje a editora, que recentemente ampliou sua linha editorial para atender também a adultos e jovens adultos, se surpreendeu com outros títulos chamando a atenção na Feira do Livro Infantil de Bolonha, que reuniu profissionais do mercado editorial internacional na Itália entre segunda, 21, e quinta, 24.
Viviane veio para vender e para comprar direitos autorais. “Nesses dias, eu dividi minhas reuniões em duas. E, vendo o que estão oferecendo, posso antecipar tendências e trazer outras coisas mais adequadas na próxima edição”, explica. Entre as surpresas deste ano está o livro Kakopi, Kakopi: Brincando e Jogando com as Crianças de Vinte Países Africanos, do brasileiro Rogério Andrade Barbosa, que despertou justamente o interesse de uma editora africana.
Outro livro que chamou a atenção, de editoras da Turquia e dos Emirados Árabes, foi A Vizinha Antipática Que Sabia Matemática, de Eliana Martins. E também Com Que Cabelo eu Vou, de Kiusam de Oliveira. Além disso, Meu Pé de Laranja Lima está sendo vendido neste momento para três países. As conversas começam na feira e geralmente terminam depois.
Da sua parte, ela procurou obras que mostram culturas diferentes, de novas vozes da literatura, com protagonistas negros, entre outras características. Pensando em seu catálogo voltado para escolas, Viviane estava atrás de livros sobre sentimentos que, ela explica, têm tido uma demanda recorrente. “É curioso que no momento em que buscamos esses livros, e há bastante oferta, as editoras da Europa já estão em outra fase e produzem livros sobre esperança. Isso já me faz pensar no dia depois de amanhã.”
Para ela, esta edição, realizada depois de dois anos pandêmicos, termina com um saldo positivo por dois motivos: todos estavam querendo voltar a se encontrar pessoalmente e os relatos são de que as reuniões de negócios foram muito boas.
“Analisar os livros pessoalmente, conversar com as pessoas de novo e entender a situação de cada mercado foi muito bacana”, comenta Karine Pansa, diretora da Girassol Brasil. “Faço muito mais compra do que venda e neste momento estou comprando mais direitos autorais do que produto acabado. Essa foi a alternativa que encontramos para não sofrermos tanto com as questões relacionadas ao dólar, ao frete e ao custo de papel. Foi uma feira em uma nova realidade, mas com boas perspectivas”, finaliza Karine, que é também vice-presidente da Associação Internacional de Editores (IPA).
Por Maria Fernanda Rodrigues