Armador da equipe italiana do Basket Corato vai vestir verde e amarelo no Sul-Americano sub-18 que acontece em Caracas
A seleção brasileira sub-18 masculina que vai disputar o Sul-Americano de basquete em Caracas tem um jogador que, por um minuto, quase escolheu o azul em vez do verde e amarelo. O armador Daniel Tedesco tinha possibilidade de atuar pela Itália pelo dupla cidadania. Optou pelo Brasil. “Tive um minuto de dúvida. Parei para pensar, matutando. Sou mais brasileiro do que italiano e não tinha motivo para não defender o Brasil”, explicou o jogador de 18 anos.
Ele defende atualmente o Basket Corato, equipe da quarta divisão (Série C) do basquete italiano. Por isso, estava no radar da Itália. A decisão de atuar pelo Brasil na competição que começa nesta segunda-feira e garante três vagas na Copa América não contou com orientação dos pais. “Conversei com eles, mas não responderam nada”, contou, rindo. “Eles apoiaram o que eu decidi”, completou.
A influência do pai, também Daniel, aconteceu lá atrás, aos nove anos, quando ele trocou de esporte. “Como todo brasileiro, comecei no futebol. Mas meu pai jogava basquete e eu sempre estava envolvido com este mundo, indo aos jogos. Assistia (basquete) também na tevê. Não entendia nada, mas achava legal.”
Daniel entrou de cabeça na modalidade após o pai gravar uma partida entre amigos. O menino se destacou e recebeu um convite para treinar no Barueri. O sucesso foi imediato. Após se destacar pela equipe, foi chamado para um teste no Paulistano, tradicional equipe da capital, e foi aprovado em poucos minutos.
Antes de continuar esta história é necessário um parêntese para explicar o apelido de Biônico, que ganhou até antes de se tornar um fenômeno na base. Há duas versões para esta alcunha, segundo o próprio Daniel, que ri ao contar.
A primeira (e verdadeira) é que ele tinha tanta facilidade para executar os movimentos quando jogava com os amigos que não eram do basquete que recebeu este apelido. A outra foi inventada pelo pai. “Ele disse para eu contar que tive de fazer uma operação após cair e colocaram um chip no meu braço. Uma doideira”, se diverte.
Voltando ao basquete, Daniel, aos 15 anos, foi viver o sonho na Europa. Por intermédio do ex-jogador Marcelo, hoje um talent scout, ele foi convidado para testes em três cidades italianas: Bolonha, Turim e Corato. A última, com 45 mil habitantes, foi escolhida como destino.
Lá Daniel morou um período com sua mãe, Flávia, até que ela foi trabalhar na Bélgica. O pai pensa em ir para Corato neste ano. “No começo, não vou mentir, foi muito difícil. O impacto de cultura nova, língua nova. Eu até aprendi um pouco de italiano quando era criança e procurei estudar um pouco quando vi esta oportunidade, mas quando cheguei lá não sabia nada, não entendia nada”, explicou.
A mudança ocorreu em meio à pandemia da covid-19. O que, neste caso, ajudou na adaptação. “A parte da escola todos os professores tiveram muita paciência. Fui devagar aprendendo o italiano, isso ajudou”, disse Daniel, que, quando voltou ao presencial no ensino médio, já estava mais preparado.
Em quadra, o brasileiro seguiu se destacando. Ele atua, inclusive, em jogos da equipe adulto do Corato, apesar de ainda continuar na base. O desempenho o tornou conhecido na cidade, permitindo comer sem pagar em uma pizzaria e até não gastar para cortar o cabelo. “Ganhei alguns presentes por causa do basquete”, admitiu.
Daniel compara o nível da quarta divisão da Itália ao da Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB) do Novo Basquete Brasil (NBB), competição para atletas com até 22 anos. “Só que com jogadores experientes.”
Ele é fã de James Harden, que recentemente trocou o Brooklyn Nets pelo New Jersey Nets na NBA, mas afirma que o seu estilo é diferente do ‘Barba’. “Me inspiro mais nos armadores, como o LaMelo Ball e o (Milos) Teodosic”, afirmou, citando o jogador do Charlotte Hornets, também da NBA, e o sérvio do Virtus Bologna, da Itália.
Com 1,90m, Daniel admite que ainda precisa melhorar na defesa. “Tenho um pouco de dificuldade para acompanhar os (armadores) mais baixos na marcação”, disse o armador, que, além da criação de jogadas para os companheiros, gosta de definir e tem um bom arremesso do perímetro.
Neste Sul-Americano, ele espera demonstrar que fez uma escolha acertada. O Brasil está no Grupo A, ao lado de Colômbia, Bolívia e Uruguai. No Grupo B ficaram Equador, Chile, Venezuela e Argentina. As duas melhores equipes de cada chave avançam às semifinais e os três primeiros colocados garantem vaga na Copa América. “Quero ganhar. Não podemos perder”, avisou.
Por Marcius Azevedo