Comentários sem nenhuma base sobre guerra ou pandemia. O tempo que se perde negando a ciência
Como calcular o tempo de uma vida?
Desconta-se o tempo do cafezinho e as intervenções desnecessárias acerca do clima.
Subtraia a mensagem de WhatsApp respondida por educação. A escolha das figurinhas ou emojis também entram nessa conta.
Idas ao banheiro, claro. Idas demoradas ao banheiro. Leituras de banheiro ou banhos sem consciência ambiental.
Intervalos para o cigarro. Conversas entrecortadas pela fumaça.
Horários eleitorais gratuitos – não importa o partido. Discursos inflamados.
O trabalho, sempre o trabalho. O trabalho e suas horas mortas.
As digressões sobre a morte de algum famoso.
O pôr do sol ou o cair da tarde. O barquinho que vai sabe-se lá para onde.
A ioga ou a esteira. As horas na academia também precisam ser descontadas.
Comentários sem nenhuma base sobre guerra ou pandemia. O tempo que se perde negando a ciência.
Consultas ao saldo de conta corrente via aplicativo de banco – quando eles estão funcionando (ou não).
Respostas negativas ao serviço de telemarketing da operadora de celular. E as dezenas de tentativas de cancelamento de algum serviço. Falar com robô é tempo perdido.
As ponderações sobre o número de estrelas que um motorista de aplicativo merece. A conversa política/eleitoral com taxistas.
Séries que perderam o sentido depois da primeira ou segunda temporada.
A espera do delivery de pizza. Reclamar com o delivery da pizza que não chega também leva tempo.
Leitura de textão em redes social e/ou problematizações subsequentes (tretas e threads). Brigas em rede social.
Explicação de piadas. A contextualização de piadas. A irritação causada pela falta de interpretação de texto.
A ansiedade que antecede o resultado do exame. Qualquer exame.
A expectativa das férias. As próprias férias. A frustração com o fim das férias.
A expectativa do sexo, o sexo em si e o depois do sexo. Todo o sexo mais ou menos bom também entra na conta.
O tempo que demora para um e-mail ser respondido.
As horas de sono e de insônia. O tempo que perdemos tentando decifrar sonhos que não querem ser decifrados.
E o tempo que, sob efeito de alguma coisa um pouco mais forte, você se achou ótimo. Ninguém é ótimo sempre.
Faz a conta.
Quanto é que sobra?
Por Gilberto Amendola