Ibovespa cedeu 1,82%, aos 104.403,66 pontos, enquanto dólar terminou o dia com valorização de 0,78%, a R$ 5,4997
A volta do feriado para o mercado doméstico foi marcada por aversão ao risco, novamente na contramão externa. Os fatores para queda da Bolsa nesta terça-feira, 16, com alta de dólar e juros, não chegam a ser novos, mas ganharam novos tons de incerteza desde a última sexta.
Por aqui, a expectativa de que a PEC dos precatórios andaria de forma célere no Senado, vista até a semana passada, deu lugar às incertezas sobre o que mais será incluído no texto, além da possibilidade de que ele volte para a Câmara. Isso ocorre depois que o presidente Jair Bolsonaro sugeriu, na segunda, abrir espaço na PEC para acomodar aumento ao funcionalismo em 2022, declaração que foi corroborada pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra.
Como se não bastasse a incerteza fiscal, a política monetária, aqui e no mundo, também segue no radar. Afinal de contas, enquanto diretores do BC, como Fernanda Guardado, têm dito que a autoridade monetária colocará a Selic onde for preciso para controlar a inflação, sinais de aquecimento da atividade nos EUA reacendem o debate sobre quando o Federal Reserve (Fed, BC americano) iniciará o aumento de juros por lá. A combinação desses fatores significa, em última instância, maior cautela com ativos brasileiros.
E foi isso que aconteceu, com o Ibovespa cedendo 1,82%, aos 104.403,66 pontos. O real perdeu força, embora não tenha sido desta vez a moeda mais penalizada entre os emergentes. O dólar encerrou o dia com valorização de 0,78%, a R$ 5,4997.
O pregão pode ser dividido em duas partes. Nas primeiras horas de negócios, o dólar até chegou a cair, na esteira da alta das commodities diante indicadores fortes da economia chinesa (varejo e produção industrial), descendo à mínima de R$ 5,4305. A troca de sinal se deu no fim da manhã, tendo como indutor o avanço mais contundente da moeda americana lá fora. Os principais gatilhos foram a alta de 1,7% das vendas do varejo nos Estados Unidos em outubro ante setembro (era esperado 1,5%) e declarações duras do presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard. Com direito a voto nas decisões do BC americano a partir de 2022, o dirigente disse que o Fed pode acelerar o ritmo de redução de compra de bônus e até subir os juro mais cedo antes do fim do “tapering“, que é a retirada de estímulos por parte do Fed.
A barreira psicológica de R$ 5,50 foi rompida logo em seguida em razão de declarações de senadores que embaralharam as expectativas para o desenho definitivo da PEC dos precatórios, peça fundamental para dar alguma visibilidade à política fiscal. Após reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, e outro parlamentares, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) disse que a chance de a PEC voltar à Câmara “é muito grande” e que “até uma redução do espaço fiscal” está em negociação. Hoje, disse o senador, o governo tem maioria na Casa, mas com folga de apenas um e dois votos. Em todo caso, do jeito que a PEC está, o Podemos votará contra.
Já Bezerra tentou mostra otimismo ao dizer que “existe disposição dos dois lados para um entendimento” e manter a expectativa de votar o teto na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) no próximo dia 24. Bezerra disse também que o governo pode conceder reajuste a servidores públicos em 2022. No fim da tarde, o relator-geral do Orçamento, deputado Hugo Motta (PSD-RJ), disse ao Estadão/Broadcast que não há espaço nas contas para reajuste a servidores.
As incertezas em relação ao texto da PEC elevaram a percepção de risco e deram fôlego extra dólar, que emendou uma série de máximas no início da tarde, tendo corrido até os R$ 5,5092. A despeito do avanço desta terça, o dólar perde 2,59% no acumulado do mês.
Já na renda fixa, o aumento do risco fiscal e a moeda dos EUA em níveis mais elevados reduziram a inclinação negativa da curva de juros, com os vencimentos curtos perto da estabilidade, mostrando divisão entre apostas de 1,5 ponto e 2 pontos de alta da Selic, e os longos acumulando prêmios. Por fim, em Wall Street, os dados conhecidos ainda pela manhã, com produção industrial e vendas no varejo americanos acima do previsto, direcionaram o otimismo dos investidores, ainda que aumentem as dúvidas sobre os próximos passos do Fed. Como reflexo, enquanto as bolsas subiram, de olho na atividade, os yields dos Treasuries ganharam força com a percepção de que o aperto monetário pode ocorrer antes do previsto.
Por Simone Cavalcanti