Sucessor de Charles Bronson (1921-2003) no posto dos heróis grisalhos, o irlandês Liam Neeson está de volta aos cinemas, dublado entre nós pelo celacanto Armando Tiraboschi, no tenso “Agente das Sombras” (“Blacklight”), um thriller sem vergonha alguma de ser B até a medula, pilotado pelo realizador Mark Williams, com quem o ator fez o sucesso “Legado Explosivo” (2020). Esse foi um sucesso inesperado do auge da pandemia, lançado logo que o primeiro lockdown acabou e as salas exibidoras reabriram. A nova dobradinha entre Williams e Neeson tem um diferencial na presença inteligentíssima da atriz Emmy Raver-Lampman (de “Umbrella Academy”) no papel de uma jornalista que ajuda o fixer vivido pelo protagonista a entender o que existe de errado com o FBI. O termo fixer (ou “arranjador”) é um conceito que se usa no submundo dos Estados Unidos para descrever “profissionais” que eliminam problemas pessoais de figurões ou de instituições de respeito. No caso da agência federal dos EUA, a tarefa de Travis Block (Neeson) é exfiltrar operativos em perigo, ou seja, extrair agentes que estejam em situações de risco dos locais onde eles estejam condenados, usando técnicas inusitadas. Para fazê-lo, Block não tem registro oficial. É um espectro. Mas quando um colega pira e ameaça delatar os crimes do chefão, Gabriel (um vetusto Aidan Quinn), Block se vê forçado a empregar tudo o que sabe contra seus antigos patrões, caindo em desgraça. O problema é que ele tem filha e neta. E as duas podem entrar em apuros. E ainda tem a tal repórter encarnada por Emmy (em estado de graça em cena), que precisará de seu apoio. Um apoio que consiste não apenas de seus dotes para pontapés e tiros, mas de suas manhãs com botijões de gás e encanamentos. É um filme corriqueiro, montado sem qualquer depuração, mas que surpreende pelo tônus nada moralista de sua premissa e pelo carisma de Neeson, galvanizado, na versão dublada, pelo vozeirão de Tiraboschi, um gênio de sua arte.
Por Rodrigo Fonseca