A transparência nas empresas se tornou valor inegociável. O acesso às informações que a conectividade proporciona diariamente transformou o mundo em um lugar onde quase nada é segredo. E as empresas não estão livres dessa revolução.
A cultura de transparência e anticorrupção tem transpassado a esfera estatal e ganhado cada vez mais relevância também no setor privado. Isso porque os impactos da corrupção são igualmente graves para as empresas, uma vez que distorcem mercados, prejudicam o desenvolvimento econômico e geram danos reputacionais para o setor corporativo. Os prejuízos causados pela corrupção alcançam 5% do PIB global anualmente.
Companhias transparentes e com participação ativa em movimentos de ESG são as que mais têm se destacado no mercado. Em dezembro de 2021, a Rede Brasil do Pacto Global da ONU lançou o movimento Transparência 100%, para encorajar as empresas brasileiras a se comprometerem com a meta de serem totalmente transparentes até 2030. A proposta é ir além das obrigações legais, fortalecendo as práticas de transparência para tornar seus negócios ainda mais resilientes e exemplos de sucesso para outras companhias.
Essas práticas de transparência nada mais são do que iniciativas que asseguram que todas as partes interessadas – stakeholders da empresa – recebam as informações necessárias sobre o andamento do negócio para tomarem suas decisões. Isso não significa apenas informar, mas ir mais além: é transformar a empresa, introduzir novas práticas de comunicação como, por exemplo, criar canais de denúncia e, principalmente, ter o envolvimento da alta administração. Sem o elemento de “exemplo” dos líderes, torna- se inviável engajar todos os colaboradores e não há uma transformação cultural de forma coerente.
Torna-se fundamental que as companhias priorizem o trabalho da área de compliance e que este seja um pilar estratégico de sua gestão; afinal combater a corrupção também é uma responsabilidade das empresas. Já não se atua mais em empresas a “portas fechadas”. A gestão hoje precisa assumir um papel transparente, compartilhar a tomada de decisões com diversos interessados e com a sociedade. É assim, por meio da governança corporativa e cumprindo com um dos seus princípios que é a transparência, que as organizações conseguirão administrar com mais facilidade as oportunidades que surgirem.
De acordo com um estudo da consultoria PwC, a transparência nas empresas tem efeitos principalmente entre o público e consumidores, indicando que todos os dados relevantes devem ser tratados com a mesma importância que os dados financeiros; ou seja, as informações não-financeiras têm o mesmo valor que dados monetários dentro de uma empresa.
As práticas de governança corporativa representam um caminho importante para agregar valor a um negócio, assim como contribuem para a perenidade da organização. Como membro do Conselho Consultivo da Alliance for Integrity, uma iniciativa global financiada pelo governo da Alemanha para incentivar a transparência e integridade no sistema econômico, meu papel também é de fomentar as boas práticas dentro do ambiente corporativo, realizando intercâmbio de informações e contribuindo com capacitações práticas, ajudando o País a superar os baixos índices de combate à corrupção.
Dia 9 de dezembro é celebrado o Dia Internacional Contra a Corrupção, data instituída pela ONU, e diversos indicadores têm mostrado que o Brasil permanece estagnado em um patamar ruim quanto a esse aspecto, abaixo da média dos países latino-americanos. O Índice de Capacidade de Combate à Corrupção, elaborado pela Control Risks em conjunto com a Americas Society/Council of the Americas, mostrou que o combate à corrupção no Brasil caiu 8% em 2021, a pior queda entre os 15 países avaliados do ranking na América Latina. Já o Índice de Percepção da Corrupção, produzido pela ONG Transparência Internacional, mostrou que a percepção da corrupção no Brasil em 2020 foi maior que a média global e da América Latina. A nota do Brasil (38) ficou abaixo da média da América Latina (41) e mundial (43) e distante da média dos países do G20 (54), por exemplo.
Apenas com a união entre governo, empresas e sociedade, o Brasil pode superar os baixos índices de combate à corrupção e seguir com as transformações estruturais necessárias. Os desafios são evidentes e para atingir os objetivos propostos pelo compliance é imprescindível a existência de uma estrutura que garanta a integralidade do fluxo de informações da empresa e possibilite a comunicação efetiva entre as unidades de negócio e a alta direção, e ainda a confiabilidade dos dados, com uma coleta e análise de dados estratégicas, ajudando os empresários a tomarem decisões embasadas e íntegras. Dessa forma, o setor privado assume um papel crucial na prevenção da corrupção. Sem integridade não há futuro empresarial.
Por Marcia Muniz