Formar equipes tática e tecnicamente competitivas e capazes de fazer bons jogos é muito mais importante para os times brasileiros, como o Palmeiras, que tem a oportunidade de disputar o torneio neste ano
Ganhar o Mundial de Clubes é uma obsessão para o Palmeiras. É também para qualquer time do Brasil que consiga essa oportunidade. Não deveria. A obsessão deveria ser outra.
Formar equipes competitivas, com esquemas táticos definidos e boas alterações, com bons jogadores, times donos de um futebol consistente, capazes de oferecer apresentações convincentes e arrancar aplausos dos seus torcedores, assim como motivar os amantes do futebol de maneira geral, é muito mais importante e irresistível do que festejar um torneio com alguns clubes desconhecidos no cenário internacional, cuja maior ambição é se proclamar campeão do mundo. O campeão num ano é capaz de perder o Estadual no outro. Por isso que digo que a obsessão deveria ser outra. Com as qualidades citadas, ser campeão é consequência natural.
O que não quer dizer que o Palmeiras, único na América do Sul com essa possibilidade, não deva se esforçar ao máximo para se dar bem em Abu Dabi e trazer para casa a tão desejada taça da Fifa. É obsessão do torcedor e dos atletas.
Mas reforço o ponto de vista de que mais vale o feito de ganhar duas Libertadores seguidas e obter a chance de voltar a figurar no torneio internacional do que vencê-lo simplesmente. A própria Fifa trata a disputa sem entusiasmo. Prefere os torneios de seleções e a Copa a cada dois anos.
No Brasil, o Campeonato Brasileiro é a principal competição. Tem 38 rodadas, 380 partidas e pelo menos 12 times em condições de vencê-lo. É uma disputa em que elencos modestos, mas bem arrumados, podem fazer frente aos grandes e endinheirados. O Palmeiras ganhou a Libertadores, mas não se deu bem no Brasileirão. Tentou de todas as formas, mas sem sucesso. E não foi uma questão de escolha do clube.
O Mundial de Clubes é uma resposta que o time brasileiro deve ao seu torcedor. É assim que ele é pesado. No caso do Palmeiras, há ainda um incômodo pela provocação nacional de “O Palmeiras não tem Mundial”, que acabou virando um mantra dos que torcem contra. Entendo, no entanto, que os times grandes do Brasil devem lutar para ganhar todas as competições que se propõem a disputar. Sem exceção. Vale para o Estadual, abre-alas da temporada, e para todos os outros torneios.
Para clubes, jogadores e torcida no Brasil, ganhar o Mundial da Fifa é o degrau mais alto que um time pode alcançar. É o seu Everest. O europeu não pensa assim. Para o Chelsea, representante do continente nesta edição, é um troféu que está em jogo, portanto, digno de ganhá-lo. Mais nada. Na semana que vem, o Chelsea estará mais interessado em se dar bem no seu jogo na Liga dos Campeões diante do Lille.
No Brasil é diferente. E é preciso respeitar isso. Daí a obsessão do Palmeiras e de todos os que foram lá antes dele.
Por Robson Morelli