Por G1 Esporte
O Barcelona publicou sorrateiramente seu balanço financeiro referente a 2019/2020. E a imprensa espanhol viu. Crise financeira! O jornal AS destacou a dívida de curto prazo: nada menos do que 730 milhões de euros. Um número que não precisa ser convertido para impressionar.
As finanças do Barça interessam até aos brasileiros, afinal há quantias generosas, em euros, a pagar para Palmeiras, Grêmio e Atlético-MG.
O ge, então, puxou o balanço catalão e organizou os dados para que se entenda a situação em um dos clubes mais ricos do mundo. Os números se referem à temporada europeia mais recente, 2019/2020, cujo exercício fiscal se encerrou em 30 de junho de 2020.
A visão geral
No contexto dos espanhóis e catalães, pode-se dizer que o Barcelona passa por uma crise financeira. As contas do clube pioraram muito na última temporada, principalmente por causa da pandemia do coronavírus e de suas consequências, mas também na anterior.
Vá com calma, no entanto. Em comparação ao que o torcedor brasileiro está acostumado, os números do Barça nem parecem tão ruins assim. Mal se comparam ao estado das finanças de clubes tradicionais.
Uma medida útil para entender a gravidade da situação é a comparação entre receita e dívida. Ou seja, tudo o que o Barcelona arrecadou na temporada versus o que tem para pagar. Essa relação era positiva até três anos atrás. Deixou de ser e piorou bastante no último balanço.
Receitas
O Barcelona ainda detém o maior faturamento do mundo. Um pouco à frente do Real Madrid, um bocado acima do Bayern de Munique e do Manchester United, distante de todos os demais. O Football Money League, da Deloitte, mostra esse ranking em um estudo anual.
No caso da La Liga, como a competição foi suspensa por causa da pandemia e encerrada somente em julho, depois do fechamento do balanço, parte considerável do dinheiro da televisão não pôde ser contabilizado. Isso explica em partes a redução na transmissão.
Também está nesse item a participação na Liga dos Campeões, ou seja, o repasse que a Uefa faz para os participantes de acordo com a classificação final. Como o Barcelona caiu nas quartas de final, massacrado pelo Bayern de Munique, dinheiro foi desperdiçado.
Na área comercial, patrocínios não tiveram nenhum decréscimo, segundo o relatório redigido pelo clube. No entanto, o braço de merchandising e licenciamentos registrou uma queda significativa em relação ao exercício anterior. Pessoas preocupadas com um vírus letal consomem menos produtos de clubes de futebol.
E no matchday – receitas ligadas ao dia do jogo, como chamam os europeus – houve redução também por causa da pandemia. A suspensão dos campeonatos, e depois o retorno deles com portões fechados, prejudicou uma linha que vinha em crescimento.
Nas transferências de atletas, que não estão contabilizadas no quadro acima, o Barcelona fez 151 milhões de euros. Os brasileiros Arthur e Malcom estão entre os principais nomes nesta conta à parte.
No total, o impacto do coronavírus foi de 204 milhões de euros. O número foi calculado pelo próprio clube e descrito no balanço financeiro. Se não fosse a pandemia, a diretoria catalã projeta que poderia ter arrecadado quase 1 bilhão de euros na temporada.
Dívidas
O número que geralmente chama atenção da mídia e da torcida é o do prejuízo. E no caso do Barcelona houve. Na diferença entre receitas e despesas, a diferença ficou 97 milhões de euros negativa.
Existem itens dentro desse deficit que não representam desembolso de dinheiro, pois são “apenas” contábeis. Então a maneira mais prática de entender como a crise tem apertado está na análise das dívidas.
Ao todo, o Barcelona tem mais de 1 bilhão de euros a pagar. E o pior é que metade disso será cobrada por credores em prazo inferior a um ano. Em outras palavras: até 30 de junho de 2021.
Até porque essa grana, que estava depositada na conta bancária ou em aplicações financeiras, estava lá justamente para dar conta desses compromissos. Digamos que 572 milhões é a parte “descoberta”.
O principal motivo do endividamento do Barça neste exercício fiscal tem nome e sobrenome: empréstimo bancário. Como o clube foi apertado pela redução das receitas, decorrente da pandemia, precisou ir a instituições financeiras captar dinheiro para não quebrar.
Para que se tenha uma ideia mais clara do problema, em apenas uma temporada o endividamento bancário do clube catalão aumentou 206 milhões de euros. E o pior: praticamente tudo a vencer no curto prazo. Bancos não foram simpáticos com a situação blaugrana.
Outro ponto crítico são as dívidas com entidades esportivas. Ou seja, valores devidos a clubes de quem o Barcelona comprou jogadores recentemente. Como Atlético-MG, Grêmio e Palmeiras. Eis as maiores contas a pagar na contratação de atletas a vencer no curto prazo:
- 29 milhões de euros – Liverpool (Philippe Coutinho)
- 16 milhões de euros – Ajax (De Jong)
- 9,8 milhões de euros – Bordeaux (Malcom)
- 9,6 milhões de euros – Braga (Trincão)
- 9 milhões de euros – Betis (Junior Firpo)
- 8 milhões de euros – Grêmio (Arthur)
- 6 milhões de euros – Atlético-MG (Emerson)
- 4,8 milhões de euros – Juventus (Pjanic)
- 4,6 milhões de euros – Palmeiras (Matheus Fernandes)
E no longo prazo:
- 53 milhões de euros – Juventus (Pjanic)
- 48 milhões de euros – Ajax (De Jong)
- 40 milhões de euros – Liverpool (Philippe Coutinho)
- 13,5 milhões de euros – Grêmio (Arthur)
- 9,8 milhões de euros – Braga (Trincão)
Essas dívidas nada têm a ver com a crise causada pelo coronavírus. O Barcelona deixou para trás a consistência na formação de atletas vindos da base. Ou, pelo menos, no uso desses atletas no time principal com a maestria dos tempos de Pep Guardiola, Messi e tantos outros.
A direção do agora ex-presidente Josep Maria Bartomeu passou a buscar títulos da maneira mais fácil e ordinária: contratando jogadores prontos. Não conseguiu o desempenho esportivo que procurava e ainda endividou o clube perigosamente. Agora precisará de ajustes nas contas.
Antes de terminar, um choque para brasileiros: repare como as dívidas com o governo (fiscais) e com jogadores (trabalhista) são relativamente baixas. Na verdade, nem são dívidas no sentido popular da palavra, de calote e irresponsabilidade. São valores correntes que precisam ser pagos, apenas. De dar inveja em muito dirigente dos lados de cá.