No fim do mês de julho, Fernanda, mãe de Nina, de 14 anos, excluiu a conta que a filha tinha em uma rede e contava com mais de 2 milhões de seguidores. Depois, por conta da repercussão da atitude, explicou que considerou que a filha publicava conteúdos vazios e estava formando sua autoimagem influenciada por comentários de quem nem conhecia, e isso não poderia fazer bem a ela.
No início de agosto, Lucas, de 16 anos, tirou a própria vida. A mãe, Walquyria, credita seu ato a comentários maldosos e de ódio que o filho recebera em uma rede social após postar um vídeo com amigos. Ainda neste mês, Mari, mãe de Maria Luiza, de 13 anos, desabafou a respeito de comentários maldosos que a filha recebera em sua rede após postar fotos de um ensaio fotográfico em que deixa à mostra o uso de uma órtese na perna esquerda.
Essas três notícias, todas divulgadas na mídia, merecem nossa reflexão. Em comum: três jovens, ainda no início da adolescência, todos envolvidos com redes sociais, e três mães preocupadas com essa relação dos filhos com os comentários e postagens nessas redes muito populares entre os adolescentes.
Primeiramente, vamos pensar nos jovens dessa idade, um pouco menos, um pouco mais. Eles são considerados “nativos digitais” por já terem nascido e crescido em um mundo de cultura digital. Há pessoas de outras gerações que se naturalizaram nesse mundo, mesmo não tendo nascido nele.
É raro encontrarmos adolescentes que não frequentem redes sociais no espaço virtual, que não se divirtam com jogos virtuais e não tenham conhecido muitos de seus pares nesse espaço. Eles têm uma facilidade enorme para lidar com as ferramentas digitais disponíveis e as manuseiam com agilidade ímpar. Muitos adultos, por não terem essa facilidade, acreditam que pouco podem ajudar filhos e/ou alunos quando se trata de tecnologia.
Entretanto, os chamados nativos digitais podem não ter facilidade para lidar com as relações que acontecem nas redes virtuais por um motivo simples: eles estão apenas começando a adquirir experiência na vida povoada por seres com olhar mais adulto para o mundo e pouco se dedicaram a conhecer e explorar o mundo real para entender como ele funciona. E o mundo virtual, leitor, é ancorado no real, mostrando-se às vezes um pouco melhor do que este e, às vezes, um pouco pior. E esse pior é principalmente provocado pela falta da presença humana concreta nas conexões.
Quando jovens conversam entre si e praticam o que é chamado – mal chamado – de “brincadeiras de mau gosto”, eles podem observar a reação do outro. No espaço virtual, é como se não houvesse reação nenhuma, por isso eles usam e abusam de comentários agressivos e maldosos. Além de essa presença virtual não se concretizar há também a falsa ideia de que é bom ser franco. Mas eles não sabem distinguir franqueza de grosseria, ainda. Aliás, muitos adultos também não sabem.
Os relacionamentos interpessoais são delicados, complexos, exigem maturidade dos envolvidos. Maturidade que anda em falta em nosso mundo. Nós não queríamos, mas estamos construindo um mundo com crianças sem infância e adultos imaturos.
Mães e pais de adolescentes precisam bancar essa etapa de vida dos filhos. É preciso ser gente grande e ter coragem para aceitar o título de ser mãe ou pai careta. Afinal, é isso mesmo que somos aos olhos deles. E que devemos ser! Filhos adolescentes precisam de nossa presença firme, sensata. Precisamos cultivar a confiança deles para que aceitem nossa tutela, ainda necessária, principalmente no relacionamento deles com o mundo virtual.
ROSELY SAYÃO É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLÁ