Ricardo Campos Jr
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros em torno dos 2%, o menor patamar da história brasileira. Embora a decisão favoreça a aquisição de créditos e financiamentos, pode não ser tão positiva no controle da inflação, que em novembro atingiu a marca de 0,89% e acumula 4,31% nos últimos 12 meses.
Qual a relação entre a Selic e a inflação? Segundo a economista Daniela Dias, antes de responder esta pergunta é preciso entender que são várias as causas possíveis para um aumento exacerbado de preços.
“Temos, por exemplo, a inflação de custos, quando os insumos, a matéria prima, ficam mais caros. Temos ainda inflações para produtos específicos, como por exemplo aqueles ligados ao agronegócio, que neste momento estão mesmo mais caros. Neste momento econômico atual também estamos observando a inflação de demanda (procura dos clientes pelos produtos) e de custos, quando consideramos a valorização do dólar frente ao real e a consequente importação de alguns insumos, o que torna tudo mais caro”, explicou ao Correio do Estado.
Quando a taxa de juros está baixa, as pessoas e empresas são tentadas a fazer empréstimos ou comprar bens financiados. Isso significa que existe mais dinheiro circulando no mercado, ajudando a bancar os preços atuais (se tem demanda, os valores sobem).
“Então a partir do momento em que aumentamos a taxa de juros, esses investimentos passam a não ser viáveis. É como se eu tirasse dinheiro da economia, consequentemente reduzindo a demanda. Se isso acontece, a oferta tem que se equilibrar, porque o produto estará lá na prateleira e precisa ser consumido, então os preços caem para atrair essa demanda”, afirma Daniela.
A economista, pro outro lado, faz uma ressalva. Mexer nas taxas de juros não significa que o problema dos preços altos de alguns itens, como por exemplo o arroz ou a carne, será resolvido do dia para a noite, pois como ela mesma já explicou, existem uma série de fatores por trás das etiquetas coladas nos itens expostos nas gôndolas.
“Existe a situação da própria oferta, se existem produtos suficientes para atender a demanda, ou a questão dos custos, que estão mais caros. Para regular essa questão do preço podemos atuar pela demanda, mas também precisamos regular essa oferta. Tudo isso para interferir nos preços, para que tenhamos uma redução. Outra coisa que podem haver são variáveis que não temos controle, por exemplo o clima. Se a chuva ou a falta dela prejudicam alguma safra, por exemplo, os valores também sobem”, completa.
DECISÃO
O comunicado da última reunião do Copom diz que o Banco Central está atento aos preços, mas acredita que o impacto é temporário e devido a fatores pontuais, e não a problemas estruturais da economia nacional.
Existem alguns fatores que devem fazer justamente o que Daniela disse: mexer na demanda. Um exemplo é o fim do auxílio emergencial, que vai reduzir o poder de compra das famílias brasileiras a partir de janeiro. Logo, os comércios podem ter de reduzir margem de lucro para não ter estoque parado.
Além disso, alguns produtos como o arroz, devem entrar em período de safra no início do ano vindouro, o que significa mais disponibilidade e, consequentemente, possibilidade de queda de preços, mas tudo ainda não passa de previsão.