Súzan Benites
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou na semana passada a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto porcentual, de 3% para 2,25% ao ano. Foi a oitava redução seguida, quarta anunciada em 2020 e o menor patamar desde o início da série histórica, em 1996. Mas você sabe o que muda? Ou onde investir com a queda da taxa? Os especialistas de mercado analisam que o momento pode ser atrativo para a compra de bens duráveis, como imóveis.
Segundo o presidente do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (Secovi-MS), Marcos Augusto Netto, toda vez em que há redução dos juros básicos os bancos acompanham. E o número de pessoas que podem investir na casa própria também aumenta. “A queda dos juros amplia a faixa de acesso aos financiamentos. Por exemplo, se 20 mil pessoas têm condições de comprar um certo perfil de imóvel, com a queda [dos juros], o número de pessoas que acessa esse perfil é ampliado para 30 mil. Então, com a mesma renda, teremos mais pessoas com a possibilidade de comprar o imóvel”.
Para o economista Márcio Coutinho, é preciso analisar as intenções ao decidir aplicar em bens duráveis. “Pode ser viável, desde que proporcione uma rentabilidade maior que a Selic. É uma decisão muito particular e vai depender do custo de oportunidade que o investidor terá. Se investidor desejar obter uma rentabilidade superior a 2,25% ao ano, ele terá de assumir mais riscos, diversificando seus investimentos. Seja por meio da constituição de alguma atividade produtiva, aquisição de bens duráveis ou se posicionar em renda variável no mercado financeiro”, disse.
Augusto Netto ressalta que é o tipo de investimento que nunca se desvaloriza. “A prioridade do brasileiro é a casa própria, e isso não muda. O efeito é muito positivo para o setor, para quem pode comprar e não está em dificuldade, é um ótimo momento para investir em imóveis. O imóvel é um investimento que não desvaloriza, aquele investidor mais conservador acostumado a aplicar em títulos, poupança, com certeza tudo conspira para investir em imóveis”, explicou.
ESTÍMULO
O Banco Central informou que a redução dos juros, decidida nas reuniões, é compatível com os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e que, para as próximas reuniões, poderá haver um “ajuste residual” no estímulo monetário.
A economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, explica que, quando a Selic é reduzida, a intenção é movimentar a economia de uma forma geral.
“É uma taxa de referência para as demais taxas de juros. Inclusive de financiamentos, de empréstimo, e influencia significativamente nas demais. A Selic acaba ocupando dois tipos de funções: a de impulsionar a economia/consumo e de desacelerar esse consumo, tudo depende do cenário. Quando se quer impulsionar o consumo, a taxa Selic tende a cair porque, quando ela cai, as demais taxas também reduzem. Então consegue influenciar mais nessa parte de empréstimos, financiamentos de casas e carros, o que acaba fazendo com que as pessoas possam consumir um pouco mais”, explicou Daniela, que reforçou que quando a taxa aumenta o efeito é contrário.
“Quando se quer tirar dinheiro da economia, a taxa aumenta, de forma que se torna mais inviável pegar crédito, mas, por outro lado, se torna mais atrativo investir em ações, títulos públicos, no Tesouro Nacional e na poupança”, contextualizou.
O economista Márcio Coutinho reitera que o principal objetivo é movimentar a economia. “Penso que uma taxa de juros baixa seja boa para todos. A principal intenção é o aquecimento da economia”, destacou.
A redução nos juros ajuda a ampliar o acesso ao crédito tanto para consumidores quanto para empresários. “As demais taxas de juros levam em consideração outros fatores além da Selic, como garantias, o quão arriscado é emprestar, o histórico se é um bom pagador, enfim, uma série de outras variáveis. Então por isso, anteriormente a Selic estava reduzindo, mas as pessoas não estavam sentindo o reflexo, por ter estas outras variáveis interferindo nesse cenário. Mas neste momento, diante da pandemia, a ideia realmente é de facilitação, para ajudar as pessoas de um modo geral, dada a crise econômica pela qual a gente está passando”, disse Daniela.
INVESTIMENTOS
Para quem pretende investir, o economista Márcio Coutinho explica que é necessário definir as expectativas sobre a aplicação e qual o perfil. “Ao decidir fazer um investimento, seja ele no mercado financeiro ou no mercado produtivo, é importante ter bem definida a rentabilidade desejada, o horizonte de tempo, a possibilidade de não dar certo como esperado [risco do investimento] e a capacidade do mesmo se transformar em dinheiro [liquidez]”, detalhou.
Para o planejador financeiro e sócio na Expertise Investimentos, Trajano Ellera Gomes, é importante ter em mente que cada classe de investimento deve ser segregada de acordo com os objetivos e necessidades do investidor. “Objetivos de curto prazo e reserva de emergência devem ser investidos de forma mais conservadora, diferentemente de objetivos de médio e longo prazo que podem agregar produtos de maior oscilação e potencial de retorno. Pessoas que só têm investimentos conservadores, como poupança e CDB, poderiam investir uma parcela de recursos na bolsa, por exemplo, considerando esse momento de oportunidade, mas sem se esquecer do horizonte de longo prazo por conta das oscilações de mercado”, informou.
No caso de bens duráveis, Gomes diz que é preciso avaliar a rentabilidade. Já para aluguéis, deve-se calcular o valor mensal ou anual do aluguel em relação ao valor patrimonial do imóvel para obter sua rentabilidade. “O importante no caso desses bens duráveis é comprar com o maior desconto ou desvalorização possível, essa é a única certeza de que se pode ter visando rentabilizar esse recurso no longo prazo”, reforçou.
A expectativa do mercado é de que haja apenas mais um corte residual na Selic até o fim do ano. Segundo analistas, espera-se que o corte residual aconteça ainda na reunião de agosto, com a taxa de juros chegando a 2%.