Glaucea Vaccari
Pandemia do novo coronavírus fez aumentar o hábito da automedicação e, consequentemente, vendas de remédios apontados como preventivos ou para a recuperação da Covid-19 tiveram alta de mais de 138% nas vendas, mesmo sem eficácia comprovada. Vitamina C e hidroxicloroquina foram as mais procuradas pela população em Mato Grosso do Sul.
Nesta terça-feira (5) é comemorado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos e o Conselho Regional de Farmácia (CRF-MS) alerta para os riscos do uso inadequado de remédios, especialmente durante a pandemia, quando surgem diversas informações não comprovadas sobre os fármacos.
Estudo realizado a pedido dos conselhos de Farmácia, pela consultoria IQVIA, constatou um aumento significativo nas vendas de alguns medicamentos relacionados à Covid-19 nos três primeiros meses desse ano, quando aumentaram os casos da doença, em relação ao mesmo período do ano passado.
A vitamina C ou ácido ascórbico, que foi associado com “efeito preventivo” contra o novo coronavírus, o que foi desmentido por profissionais de saúde posteriormente, foi a campeã em comercialização, com aumento de 138,67%. Vendas saltaram de 75.366 no primeiro trimestre do ano passado, para 179.877 neste ano.
A hidroxicloroquina, medicamento defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como solução para o novo coronavírus, mas ainda sem eficácia comprovada em estudos, também teve aumento expressivo nas vendas, o que levou a maior regramento para comerciliazação.
No primeiro trimestre deste ano, foram vendidos 7.390 caixas do medicamento, contra 3.562 no mesmo período do ano passado, aumento de 107,47%.
Hidroxicloroquina é indicada para tratar doenças como o lúpus eritematoso e o uso indiscriminado pode causar problemas na visão, convulsões, insônia, diarreias, vômitos, alergias graves, arritmias e até parada cardíaca. O uso de hidroxicloroquina ou cloroquina em pacientes internados com teste positivo para o novo coronavírus ainda não tem evidências representativas e é justificado apenas com supervisão e prescrição médica, atualmente, com retenção de receita.
Também foi verificado um crescimento no consumo da vitamina D, como forma de aumentar a imunidade, de 32,38%.
Foram pesquisados, ainda, os medicamentos isentos de prescrição que podem ser indicados para amenizar os sintomas leves da Covid-19. No caso do Ibuprofeno, as vendas tiveram aumento de 8,01%. Medicamento chegou a ter alta procura, mas houve queda após ser relacionado ao agravamento de casos da doença.
Presidente do CRF-MS, Flávio Shinzato, alerta que todos os medicamentos trazem risco quando usados sem prescrição médica ou orientação de farmacêuticos.
“Todo medicamento pode ter o efeito contrário e fazer mal à saúde ao invés de fazer bem e resolver um problema que a pessoa tem. Tudo depende da forma que esse medicamento é tomado, a quantidade, ou interação com outros remédios. Por isso, mesmo que seja um medicamento que a pessoa já faz uso ou que seja isento de prescrição, é essencial que a pessoa consulte o farmacêutico na farmácia”, disse,
Pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) constatou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos sem indicação. 47% afirmaram que se automedicam pelo menos uma vez por mês e 25% o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana.