Estadão Notícias
A mancha de óleo que se espalha por 2 mil quilômetros da costa brasileira já atinge 109 pontos desde o Maranhão até Sergipe e afeta alguns dos destinos mais visitados do País. É o caso das praias de Pipa (Rio Grande do Norte), Maragogi (Alagoas), Tamandaré (Pernambuco) e do Futuro (Ceará), cuja economia depende da indústria turística, segundo relatório do Ministério do Turismo. Nos nove Estados da região, só a Bahia não foi contaminada pela substância viscosa.
Dono de lojas de suvenir na orla de Pipa, George Policarpo diz que não dá para calcular prejuízo com acidente. “Quando o turista percebe as manchas, ele vai ter péssima imagem do local e vai achar que é descuido da região, que depende disso. O impacto aqui será maior a médio e a longo prazo. As pessoas que vierem agora vão levar em consideração isso”, pensa.
Suely Gomes trabalha em um restaurante na orla de Maragogi, outra praia atingida, e se preocupa com o proporção do vazamento no litoral. “O maior problema é para quem quer ir para as galés e a mancha pode afetar isso”. Área de preservação, as piscinas naturais de Maragogi, também conhecidas como galés, são uma das maiores unidades de conservação marinha do País e carro-chefe do turismo na região.
“Apesar de não se notar tanto nas praias a mancha, isso vai afetar bastante a gente, porque o pessoal vai ficar com medo e quem fizer a reserva vai cancelar. Claro que o meio ambiente é importante, mas a situação financeira da cidade vai despencar”, teme Ana Carla Silva, que trabalha em outro restaurante de Maragogi, principal cidade do litoral norte alagoano.
Na praia de Carneiros, em Tamandaré, uma das mais visitadas em Pernambuco, Adriano Farias trabalha no comércio e espera que ocorra vigilância sobre produtos marítimos contaminados. “O acidente repercute mal para toda orla. Essa situação foi séria e só vem diminuir a nossa atividade. A gente precisa da conservação e do cuidado com o meio ambiente para não acontecer mais isso”, explica.
De acordo com o Secretário de Turismo do município de Jericoacoara, Ricardo Gusso, apesar do aparecimento de algumas manchas, nenhuma atividade na Vila de Jericoacoara foi prejudicada. O impacto maior foi na fauna marinha: uma tartaruga-oliva foi encontrada coberta de óleo.
“Esta semana o movimento foi bem diferente. Bem devagar. Caiu em torno de 20%, mas não sabemos se foi por conta das manchas de óleo ou por outros fatores”, relata Michelly Amaral, proprietária de uma das barracas da Praia do Futuro.
Desde 2 de setembro, registrou-se derramamento da substância em praias nordestinas, chegando a Pirambu, Barra dos Coqueiros e Ponta dos Mangues, em Sergipe, esta semana. Estudo feito pela Petrobras indicou que o produto encontrado é petróleo cru e não foi produzido no Brasil. A companhia também nega responsabilidade sobre o acidente.
Até o momento, não se sabe a origem e o responsável pelo vazamento de petróleo no Nordeste, mas os órgãos ambientais acreditam que uma embarcação tenha despejado a substância ilegalmente em alto-mar.
O óleo traz consequências diretas para o ecossistema das praias e, até agora, atingiu dez animais (entre tartarugas marinhas e uma ave), dos quais sete morreram, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
O contato com o produto também pode levar a sérios problemas à saúde de moradores e turistas. Mônica Costa, professora do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, afirmou à reportagem que locais afetadas pelo vazamento devem ser fechados para proteger a vida das pessoas.
Apesar de a pesquisadora não aconselhar o consumo de alimentos produzidos nessas áreas, até que se conheçam detalhes sobre a origem e a composição da substância, órgãos estão prevenindo banhistas sobre recolhimento do poluente.
O Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) do Rio Grande do Norte, por exemplo, emitiu nota em que pede para população evitar contato com o petróleo e, se houver, “tentar retirar primeiro com gelo ou com óleos de cozinha, devendo, logo após, lavar a pele com água e sabonete neutro”. A medida é vista como “preventiva” pelo instituto já que o piche provoca irritações e alergia no corpo.
O petróleo cru é rico em benzeno, xileno e tolueno, causando náusea, visão turva, euforia e vertigem quando em contato com mãos, olhos e boca. Além disso, as neurotoxinas do óleo podem afetar o funcionamento cerebral a longo prazo.
“Em função disso, é importante que a coleta seja feita utilizando-se ferramentas como rastelos e pás, acondicionando provisoriamente o material em recipientes plásticos, enquanto o produto não for retirado do local, procurando proteger-se do contato direto com o resíduo, não podendo ser retirado por tratores”, instrui a nota do Idema.
Ibama, Corpo de Bombeiros, Marinha do Brasil e Petrobras estão investigando a situação. Segundo o Ibama, uma equipe de 100 pessoas está trabalhando com medidas paliativas na costa durante a semana.
Sobre a fiscalização de produtos vindos de área costeira manchadas pelo poluente, a reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
A Agência Sanitária de Sergipe, por meio da gerência de alimentos e da saúde ambiental, negou responsabilidade sobre o caso. Não houve resposta de outras agências de vigilância sanitária locais.