Por Fábio Oruê
Com as medidas de isolamento social adotadas desde março por conta da pandemia do novo coronavírus em Campo Grande – que teve os primeiros casos confirmados no dia 14 daquele mês –, os números relativos à criminalidade apresentaram queda em relação ao período anterior à disseminação da doença em Mato Grosso do Sul. Somente os registros de furtos e roubos na Capital tiveram diminuição de 28% entre meados de março até o fim de abril.
De 16 de março até 30 de abril foram 1.467 registros de furto e 413 de roubo, porém, antes das medidas de combate à Covid-19 (1º de fevereiro à 15 de março), esses dados eram de 2.070 e 560, respectivamente. Outros números como homicídios e tentativas caíram para seis e oito casos em comparação entre os dois períodos.
Segundo o titular da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), Reginaldo Salomão, a queda no número de ocorrências tem relação direta com as mudanças que a pandemia forçou na sociedade. “Nós temos uma quantidade menor de pessoas circulando nas ruas; temos uma quantidade menor de valores circulando, então isso ajudou a diminuir [as ocorrências]”, comentou o delegado ao ser procurado pelo Correio do Estado.
Medidas como o fechamento dos shoppings e comércios, instauração do toque de recolher, suspensão das aulas presenciais, adoção do teletrabalho em várias instituições e a paralisação do transporte público fez com que a circulação de pessoas na cidade caísse drasticamente, principalmente no fim de março.
No comparativo por mês, os dados apresentaram queda contínua entre fevereiro e março. No primeiro mês foram 1.352 casos; em março, 1.171 registros; e no mês passado, 1.014. Já em relação aos roubos, foram registrados 374 no primeiro mês, 298 no segundo e 301 no último.
Para a atendente de caixa Júlia Medeiros, apesar de as ruas terem ficados “praticamente desertas”, o medo de assalto diminuiu. “A sensação que dá é que tudo parou; até os crimes. […] Tenho mais medo de ter Covid do que de ser assaltada”, disse ela, que utiliza o transporte coletivo e precisa caminhar para chegar em casa. “Mesmo assim eu ainda tomo cuidado. A gente nunca sabe quando pode acontecer”, finalizou.
NAS RUAS
Durante o toque de recolher, em Campo Grande, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) tem feito rondas na cidade para fazer o cumprimento do decreto, e o próprio prefeito Marcos Trad (PSD) declarou que a criminalidade foi reduzida. “O toque de recolher diminuiu o índice de violência e de criminalidade na nossa cidade abruptamente. A Guarda Municipal tem feito a fiscalização e o cumprimento do decreto”, disse ele em uma ocasião no mês passado.
Dados do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) sobre audiência de custódia reforçam a avaliação. Entre uma noite e outra, 13 e 14 de abril, o número de prisões em flagrante caiu 59,25% em Campo Grande. Até o dia 13, 27 pessoas haviam sido presas em flagrante – a maioria por violência contra a mulher –, e 11 detidos foram apresentados no plantão judiciário do dia 14 – por roubos e furtos, na maior parte dos casos.
Já no dia 15, o plantão criminal da comarca do município precisou analisar apenas três prisões em flagrante realizadas durante todo o dia 14. Dois furtos e um disparo de arma de fogo foram os únicos delitos trazidos à apreciação da justiça naquela data.
TOQUE DE RECOLHER
A prefeitura prorrogou o toque de recolher até o dia 31 de maio para confinamento domiciliar obrigatório em Campo Grande, de 0h até as 5h. O prefeito Marcos Trad reforçou a necessidade de manter o toque como medida de prevenção ao novo coronavírus e também apontou seus benefícios.
“É evidente que o toque de recolher tem contribuído e muito para a diminuição de acidentes, mortes e de pessoas infectadas. Nós temos nos adaptado a essa nova situação, prezando pela saúde e orientando sempre que as pessoas nos ajudem e fiquem em casa, sempre que possível”, disse.