EDUARDO MIRANDA
Campo Grande chega ao final desta década com retomada de projetos, uma nova cara no Centro, e muitas novas ideias para transformar o espaço urbano. Iniciativas e dinheiro não tem faltado, são pelo menos R$ 300 milhões, entre recursos públicos e privados, disponíveis para investimentos, que já começam a mostrar o resultado e levar otimismo para parte da população. A revitalização da Rua 14 de Julho, a principal e mais tradicional via comercial da cidade, é apenas o começo – emblemático – destes planos que devem mudar o cotidiano de quem mora na cidade.
Vem muito mais por aí, sobretudo, com os quase R$ 200 milhões que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) emprestou para o município levar adiante todos os planos, muitos deles, feitos no início desta década. Os outros projetos em andamento, somam pouco mais de R$ 100 milhões em investimento.
Somente na revitalização da Rua 14 de Julho estão sendo aplicados R$ 49 milhões, aproximadamente 25% dos recursos disponíveis para gastar na transformação do Centro de Campo Grande. As próximas iniciativas já estão com projetos em fase de licitação, e elas prometem dar sequência ao trabalho realizado na 14 de Julho, são elas: a revisão do Plano de Mobilidade Urbana (que pode alterar o trajeto de todas as linhas de ônibus e também o sentido de várias vias da cidade), a revitalização vias localizadas no entorno da Rua 14 de Julho, no quadrilátero compreendido entre as rua Pedro Celestino e as avenidas Fernando Corrêa da Costa, Calógeras e Mato Grosso, além de implantação de projetos habitacionais no quadrilátero central, alguns deles, com a possibilidade de reforma de edifícios já existentes (retrofit).
Este projeto de retrofit de edifícios do Centro, e também um outro – já em andamento – de requalificação de avenidas importantes (já em andamento) estão entre as iniciativas que não estão sendo financiadas pelo BID. O retrofit, cujo primeiro projeto é o de revitalizar o edifício do Hotel Campo Grande, deve ser bancado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, enquanto as obras de melhoria no pavimento de vias importantes, como Cônsul Assaf Trad, Gury Marques, João Arinos, e trechos de vias como 14 de Julho e 13 de Maio e Calógeras localizados fora do quadrilátero central, serão bancadas por um empréstimo com a Caixa Econômica Federal, e por uma parceria de compensação firmada entre a prefeitura e a Águas Guariroba.
Todas estas transformações, estarão amparadas pelo novo Plano Diretor que passou a vigorar neste mês, e que incentiva a ocupação de áreas urbanas vazias (edificadas ou não).
“A gente já percebe que começa a existir um novo sentimento de pertencimento do
Centro da cidade. As pessoas com mais de 40 anos têm uma memória afetiva com a região, por tê-la frequentado no passado, mas a geração com menos de 30 anos – acostumada com os shoppings centers – quase não frequentou o Centro”, comenta Catiana Sabadin, coordenadora especial da Central de Projetos da Prefeitura de Campo Grande.
É no escritório comandado por Catiana que estão sendo planejados todos os projetos acima, e executados a maioria deles (os financiados pelo BID, no programa Reviva Campo Grande).
14 de Julho de cara nova, ônibus fora da Afonso Pena, retrofit de edifícios e asfalto novo; confira os projetos para a Capital
Certamente, alguns destes projetos citados abaixo, a maioria em andamento, serão bem familiares para o morador de Campo Grande nos próximos anos. Entenda como cada um deles poderá influenciar nos rumos que a cidade tomará:
RUA 14 DE JULHO
Em obras há mais de 1 ano, com prazo legal para conclusão estabelecido para abril do ano que vem, mas com um acordo verbal entre o prefeito Marcos Trad e os representantes da empreiteira Engepar para inaugurar a obra até novembro, a Revitalização da Rua 14 de Julho é a obra incluída neste rol das iniciativas que transformarão o cotidiano em Campo Grande, que já pode ser vista pelo público. Até a última sexta-feira, pouco mais de 85% dos trabalhos estavam concluídas.
Depois de pronta, a via, em um trecho de 1,5 km terá calçada padronizada, com lixeiras, bicicletários, bancos, luminárias de led e vasos com plantas. A nova concepção visual da 14 de Julho ainda contempla lâmpadas de led de alta luminosidade e enquadramento nos padrões de acessibilidade.
A característica mais marcante do projeto de revitalização, porém, só será notada depois da inauguração: o rebaixamento da fiação. Atualmente, todos os fios das redes elétrica, telefônica e de gás natural, além dos canais de esgotamento pluvial e sanitário, já estão no subsolo. Depois que todos sistemas forem instalados, até o mês de novembro, os postes e seus fios serão retirados.
A revitalização da Rua 14 de Julho ainda retirou as linhas de ônibus expressas da via. Todas elas foram transferidas para a Rua Rui Barbosa, que terá um projeto específico, também financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para absorver a demanda (que já foi transferida).
MOBILIDADE URBANA
Também incluída no projeto de revitalização do Centro de Campo Grande está a revisão do Plano de Mobilidade Urbana. A partir das transformações que ocorrerão na Rua 14 de Julho e nas vias adjacentes, não somente as linhas de ônibus, mas os deslocamentos de pessoas pela cidade sofrerão alteração. E tudo isso precisa ser revisto, e estudado.
É neste projeto que a ideia, já sugerida por especialistas, e transferir as linhas de ônibus que circulam pela Avenida Afonso Pena dentro do quadrilátero central, para outras vias, como por exemplo, as ruas 7 de Setembro, 15 de Novembro, Antônio Maria Coelho e Maracaju. Especialistas consultados pelo Correio do Estado, afirmaram que a retirada dos ônibus da Afonso Pena no Centro da Cidade, poderia incentivar o comércio nas outras ruas, uma vez que a principal via de Campo Grande, têm um fluxo natural de veículos, que independe dos ônibus.
Há outros projetos de mobilidade urbana em fase de execução, financiados pelo governo federal. São eles, por exemplo, que proporcionam as obras de recapeamento e requalificação de vias como Bandeirantes, Brilhante (em andamento), Gunter Hans, Marechal Deodoro, Calógeras, Bahia e Cônsul Assaf Trad (aguardando liberação). Eles integram o corredor de transporte, que também prevê mais ônibus na Avenida Afonso Pena, projeto que terá deser refeito, por causa do tombamento do canteiro da via, decretado pelo prefeito Marcos Trad no mês passado.
ENTORNO
Quem passa pelo Centro de Campo Grande, e vê o trabalho feito na Rua 14 de Julho espera trabalho semelhante nas vias adjacentes, correto? Pois tal revitalização, não nos mesmos moldes da 14, irá ocorrer. Por enquanto, está em fase de licitação do projeto, orçado em aproximadamente R$ 600 mil.
“Nós estamos alargando as calçadas, para criar uma integração entre o Corredor de Transporte da Rua Rui Barbosa (que também será feito com recursos do BID) e a Rua 14 de Julho. O paisagismo e o mobiliário urbano, obedecerão o mesmo padrão visual da 14”, explicou Catiana Sabadin. “Nestas vias também teremos luminárias de led rebaixadas, também no mesmo padrão da 14”, complementou.
ASFALTO NOVO
Em Campo Grande, os buracos foram um dos grandes problemas desta década que se aproximada do final. Atualmente, o município conta três projetos para melhorar a condição do asfalto da cidade, dois de curto prazo, e um de médio e longo prazo.
Os dois primeiros estão sendo executados de forma contínua e integrada. É a combinação de uma compensação de buracos e infiltrações causadas pela Águas Guariroba em obras de manutenção de rede, com um empréstimo do município com a Caixa Econômica Federal por meio do programa Finisa. Pelo menos 21 vias, em todas as regiões da cidade, serão recapeadas. Entre elas estão a Avenida Filinto Muller, Cônsul Assaf Trad, Ministro João Arinos, Gury Marques, Salgado Filho, além das ruas Rachel de Queiroz, Rodolfo José Pinho, Três Barras, Souto Maior, entre outras.
Para o médio prazo, a prefeitura pretende estabelecer uma parceria público-privada para a manutenção de todas as vias da cidade. O projeto substituiria a Operação Tapa-Buraco, que ficou negativamente conhecida depois que o Ministério Público Estadual denunciou desvios milionários de recursos públicos, ocorridos em 2012.
PLANO DIRETOR
A transformação da mobilidade urbana em Campo Grande e a revitalização do Centro da Cidade estão dentro dos limites estabelecidos pelo no Plano Diretor, que começou a vigorar neste mês. Aliás, para a região central, alguns dos limites foram flexibilizados, com o objetivo viabilizar a ocupação em horários alternativos aos utilizados pelo comércio. “O Plano Diretor anterior, por exemplo, não permitira universidades na área central, agora é permitida a instalação”, explica Catiana Sabadin. “Também houve flexibilização para bares e restaurantes”, afirmou.
HABITAÇÃO
Para completar o projeto de revitalização da região Central de Campo Grande, estão os planos habitacionais. Dentro do Programa Reviva Campo Grande, será construído um residencial para 600 famílias. O terreno já foi escolhido, será na Rua Rui Barbosa, perto da Avenida Fernando Corrêa da Costa, e custou R$ 6,5 milhões, em recursos do projeto. “No programa habitacional, vamos priorizar as famílias que trabalham no Centro e, assim, resolver um problema de mobilidade”, explica.
Conforme a coordenadora da Central de Projetos da Prefeitura de Campo Grande, moradias de até R$ 180 mil em programas habitacionais, só se viabilizam na periferia, devido ao ato preço dos terrenos na região central. A compra de terrenos nesta área mais bem localizada, é uma forma de subsidiar projetos deste tipo, em áreas cujo valor de incorporação é maior. Ao final do residencial, a construtora deverá depositar uma contrapartida no valor do terreno que o município adquiriu para a construção do residencial.
RETROFIT
O Hotel Campo Grande, edifício localizado na Rua 13 de Maio, desativado em 2002, será o primeiro exemplo de retrofit do Centro de Campo Grande. O local será reformado caso a Agência Municipal de Habitação de Campo Grande (Emha) consiga viabilizar verba de R$ 38 milhões para transformar o prédio, um dos mais simbólicos das décadas de 1970 e 1980 da Capital do Estado, em um edifício de habitação popular.
O projeto já foi apresentado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, e aguarda aprovação. No mês passado, o Correio do Estado revelou que as vistorias no edifício já haviam sido realizadas. O objetivo será transformar os 260 aposentos em unidades habitacionais, com área inferior a 40 metros quadrados. (EM)