Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil
Professora em uma escola municipal de Campinas (SP), Doani Bertan é uma das 50 indicadas ao Global Teacher Prize, premiação que busca incentivar iniciativas educacionais de impacto em todo o mundo. Ela concorre a partir do projeto Sala 8, um canal de vídeos que apresenta conteúdos de português e matemática para crianças em linguagem brasileira de sinais (Libras).
“O projeto Sala 8 surgiu de uma necessidade de que eu tenho com os meus alunos em sala de aula. A gente tem uma problemática no nosso país que é a escassez de material bilíngue, que atenda ao público surdo também”, conta Doani. A produção começou em 2017 para responder às dúvidas dos alunos para quem a professora leciona todas as manhãs na Escola Municipal Julio de Mesquita.
A professora conta que tinha dificuldades em auxiliar todos os estudantes nas dúvidas com as lições de casa. “Algumas atividades os pais não conseguiam ajudar, porque a forma como hoje a gente ensina é diferente de como os pais aprenderam”, contextualiza. Por isso, Doani muitas vezes fazia repetidas chamadas de vídeo pelo celular para conseguir dar conta das dúvidas dos alunos.
Assim, surgiu a ideia de fazer algo que fosse possível de compartilhar com toda a turma de uma vez. “Eu preciso preparar alguma coisa, algum resumo da aula, para que as crianças tenham condições de lembrar da aula e fazer as atividades”, explica sobre como surgiu a ideia. “Uma videoaula jamais substitui um professor. É mais um outro recurso, mais um tipo de material para a criança ter acesso”, pondera.
Repercussão
O projeto, no entanto, ganhou uma projeção muito além das turmas com quem Doani se encontra presencialmente. Os vídeos acumulam centenas de milhares de visualizações e retornos de espectadores até de outros países. “Eu recebo muita devolutiva não só das crianças surdas, mas de pessoas ouvintes que estão aprendendo libras”, diz a respeito dos resultados.
Apesar de ter ganho outros públicos, a professora enfatiza que usa uma linguagem adaptada para crianças. “É um sinal mais devagar, para o público infantil”, ressalta.
Para conseguir dar conta do trabalho extra, Daoni tem apoio do marido, Robson, que ajuda com a edição dos vídeos. “Ele participa inteiramente, me ajuda muito com as edições. Porque é muito puxado”, diz.
“Gosto mesmo do recreio”
Apesar das dificuldades, como a falta de material didático específico que levou a professora a fazer o esforço extra nos vídeos, Daoni conta que é apaixonada pelo ensino de crianças surdas. “Eu gosto mesmo é da escola, das crianças, da hora do recreio. Trabalhar com a diferença e com a alfabetização é o que eu mais gosto no mundo”, assume entre risadas.
Um gosto que surgiu ainda na infância, assistindo os programas infantis da apresentadora Xuxa Meneghel. “A Xuxa tinha um trabalho em relação à língua de sinais e quando criança eu já conhecia o alfabeto. É uma memória de infância que eu gosto, me traz nostalgia e alegria. Começou lá com a Xuxa”, relembra.
Mas o trabalho mesmo começou ainda na época em que cursava a faculdade de pedagogia, em 2002. Nesse período, Daoni chegou a lecionar no ensino superior, porém, acabou voltando para as aulas para as crianças.
Prêmio
Se for contemplada pelo Global Teacher Prize ganhará US$ 1 milhão, que gostaria de investir no projeto do Sala 8. O prêmio é concedido desde 2014 pela Varkey Foundation, entidade que destina recursos à educação em áreas carentes. Os 50 finalistas deste ano foram escolhidos entre 12 mil candidatos.