Por Bruna Aquino
A arma utilizada para matar o jornalista Lourenço Veras, no último dia 12 de fevereiro, já foi usada em pelo menos sete execuções na cidade de Pedro Juan Caballero, todas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC) paulista, segundo informou a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que acompanha o caso.
A descoberta foi feita a partir da balística forense feita em Assunção, que identificou, em cartuchos da pistola Glock 9 mm recolhidos na casa do dono do site de notícias Porã News, o mesmo padrão de marca produzido pelo percussor da pistola no instante do disparo — uma espécie de impressão digital, única para cada arma.
Segundo a Abraji, a informação foi confirmada por autoridades envolvidas na investigação do assassinato de Léo Veras. Apesar da celeridade na descoberta da marca produzida pela arma, nenhuma testemunha ou familiar prestou depoimento formal a equipe de trabalho de agentes especializados na luta contra o narcotráfico e o crime organizado da Fiscalia (Ministério Público) de Pedro Juan Caballero e Assunção até esta sexta-feira (21), nove dias após a execução.
Apenas um policial num carro descaracterizado vem sendo mantido à frente da casa da família, no bairro Jardim Aurora, região sob influência de narcotraficantes.
A força tarefa montada para apurar o caso vem trabalhando em cinco linhas de investigação que poderiam ter motivado a execução de Veras. Todas ligadas a atividades dos narcotraficantes do PCC na fronteira entre Ponta Porã (MS), no Brasil, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, noticiadas pelo jornalista em seu site.
Entre as linhas de investigação estão dois assassinatos e um desaparecimento, no segundo semestre de 2019. Às duas vítimas, uma delas um adolescente de 14 anos, foram torturadas, baleadas e tiveram os corpos esquartejados e queimados.
Outro caso foi a apreensão de armas e drogas da facção, noticiada com exclusividade por Veras, que estaria apurando o envolvimento de policiais paraguaios na proteção aos traficantes. O jornalista também foi o primeiro a noticiar uma ação que resultou nas prisões de três integrantes do PCC foragidos da Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, publicada quatro dias antes de sua execução.
Na noite após o crime, Marco Amarilla Allen, titular da unidade de narcotráfico da Fiscalia de Pedro Juan Caballero, recolheu na casa do jornalista o computador e o celular que ele usava em suas atividades profissionais.
Os dois equipamentos não tinham senha, e o celular registrava grupos de Whatsapp com fontes de Veras, incluindo autoridades policiais brasileiras e paraguaias, além de trocas de mensagens com outros jornalistas sobre suas atividades na fronteira. A investigação policial sobre o assassinato segue sob sigilo.
Com informações da Abraji*