Por Marcelo Ribeiro
Conflitos entre humanos e carnívoros selvagens como onças e leões são comuns, pois os felinos costumam matar os animais dos criadores. Esse fato aumenta significativamente o risco de desaparecimento dos predadores selvagens.
Abordagens de baixo custo que não dependam exclusivamente do isolamento dos animais ou matança de predadores podem ser muito úteis.
Uma nova pesquisa, publicada na revista científica Nature, descobriu que pintar olhos no traseiro do gado pode ser eficaz para proteger os animais de ataques.
Inúmeros felinos selvagens grandes — como onças, leões, leopardos e tigres — são predadores de furtivos. Eles seguem suas presas potenciais sem serem percebidos e dependem do fator surpresa para o sucesso. Muitos desistem da presa quando são avistados.
Os pesquisadores do estudo colocaram essa idéia a prova no Botswana, no delta de Okavango. Na região é comum os criadores perderem seus animais para grandes predadores. E os pecuaristas podem matar os grandes carnívoros em retaliação e para manter seu rebanho.
Os maiores responsáveis pelas mortes do gado na região eram os leões, em seguida as hienas e depois os leopardos.
A prática de pintar olhos no traseiro do gado mostrou que os carnívoros tem chance menor de atacá-los. O que indica que essa técnica simples e barata pode ser uma nova maneira de melhorar a convivência entre humanos e predadores selvagens.
Porque a solução é tão interessante
O choque entre criadores e a predadores é um fator considerável de extermínio de animais selvagens em locais privados que fazem fronteira com áreas protegidas.
No Botswana os animais de criação compartilham espaço com inúmeros carnívoros selvagens. E as pequenas comunidades acabam arcando com a maior parte do prejuízo dessa convivência quando seus pequenos rebanhos, que costumam ter entre seis e cem animais, são fechados áreas que predadores não conseguem invadir no período noturno. Mas durante o dia eles precisam ser soltos para pastar e é nesses horários que costumam ser atacados.
A equipe de pesquisadores se uniu com a Conservação de Predadores de Botswana e pastores da região. Pintaram um pouco mais de dois mil bovinos durante os quatro anos de estudo.
Antes dos animais serem soltos para o pasto pela manhã eram pintados olhos no traseiro de 1/3 dos animais, outro terço recebia marcações de X e o outro terço sem nenhuma marca.
Os animais foram rastreados e se alimentaram nas mesmas regiões, portanto estavam expostos possivelmente aos mesmos riscos. Mas o gado do mesmo rebanho que tinha os olhos pintados no traseiro teve uma chance muito menor de ser atacado do que os animais sem pintura ou com a pintura de X.
O estudo descobriu, na verdade, que nenhum dos 683 bois de “traseiro vigilante” foi atacado enquanto 19 dos demais grupos morreram por ataques de predadores.
O resultado mostra que a hipótese inicial dos pesquisadores pode estar certa já que há uma correlação forte entre a pintura dos olhos e a ausência de ataques.
Mas algo inesperado ocorreu já que os animais com as marcas de X tiveram chance muito menor de serem atacados do que aqueles sem marcas já que foram mortos apenas 4 deste grupo contra 14 do grupo sem nenhuma marca.
Até quando vai funcionar?
Não se sabe se até quando a técnica teria o efeito desejado já que os carnívoros podem se habituar e passar a ignorar as pinturas. Esse é um problema que todas as abordagens não-letais para os predadores costumam passar.