Moradores se unem em mutirão e revitalizam parte da Orla Morena
Por Suki Ozaki Fotos: AMBC
Inaugurada em dezembro de 2010, na gestão do então prefeito Nelsinho Trad, a Orla Morena, foi uma obra que mudou a cara do bairro Cabreúva e Vila Planalto. Com 2,3 quilômetros de extensão, que vai da Avenida Júlio de Castilhos até a Rua Plutão, ela se tornou um dos parques lineares mais visitados de Campo Grande.
Com o passar dos anos e sem uma manutenção periódica, como poda das árvores, a Orla acabou perdendo a cobertura da grama que sustentava o talude (barrancos) ao longo da via. Na praça, onde acontece a feira livre todas as quintas-feiras, a situação ficou crítica em 2022, quando, atrás do Teatro de Arena, as raízes de três pés de seriguela ficaram à mostra. As chuvas de verão fizeram com que a enxurrada que descia da Vila Planalto, transformasse o local em um verdadeiro lamaçal, causando transtornos aos feirantes e frequentadores do espaço.
“Moro próximo e caminho todos os dias por aqui com meus cachorros e me entristecia ver o abandono da praça. As árvores iriam cair uma hora ou outra”, lembra Vicente Martins. Aposentado, ele entrou em contato com o presidente da Associação de Moradores do Bairro Cabreúva (AMBC), o empresário Eduardo Cabral e juntos, decidiram salvar as árvores e acabar com a lama no local.
Durante vários fins de semana de abril a maio de 2023, eles mobilizaram alguns moradores e no sistema de mutirão colocaram mais de 60 pneus reciclados das borracharias do bairro, nos locais assoreados.
Depois, eles conseguiram a doação de um caminhão de terra da prefeitura para cobrir os pneus.
A próxima etapa foi plantar a grama. “Nós fizemos uma vaquinha com os moradores e comerciantes da feira livre e do comércio local. Conseguimos arrecadar um pouco mais de R$ 1 mil reais que foi investido na compra da grama”, explica Cabral.
Graças a um ponto de água instalado na praça pela Concessionária Águas Guariroba, o vice-presidente da AMBC, Ambrosino Paião, o aposentado Aldo Peres passaram a se revezar com Cabral para molhar a grama todos os dias, para que ela não morresse no período de estiagem.
Eduardo Cabral, presidente da AMBC molha a grama recém plantada.
O presidente do bairro também descobriu que os bueiros de capitação de água da chuva que descem da vila Planalto estavam entupidos e por isso, a enxurrada desaguava atrás do palco, o que causava o desbarrancamento.
“Fizemos os ofícios e pedimos para que a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) fizesse a limpeza das bocas de lobo e isso foi determinante para sanar o problema da enxurrada no período de chuvas”, lembra Cabral.
Para conter também a erosão e impedir o barro de cair na praça, eles fizeram uma fileira de pedriscos doado por moradores.
Em maio de 2023 o trabalho atrás do palco foi concluído.
Lixeiras sustentáveis
Vicente Martins, Eduardo Cabral e Aldo Peres fizeram das manilhas, as lixeiras da Orla Morena
A Orla Morena também vivia suja, pois as lixeiras haviam sido furtadas ou quebradas ao longo dos anos. Vicente Martins, sempre procurando soluções sustentáveis, descobriu na internet que podiam aproveitar manilhas descartadas, material resistente e barato.
Cabral então lembrou que algumas haviam sido abandonadas atrás da Rotunda, ao lado da Feira Central, quando foi feita a canalização da rua 13 de maio, durante o Reviva Centro. Então, com a ajuda de outro morador, o Rodrigo Fernandes, que tem uma caminhonete, e no sistema de mutirão com outros voluntários, eles recuperaram cerca de 15 manilhas e as colocaram ao longo da Orla, desde a rua Jequitibá até a Rua Antônio Maria Coelho.
Pista de Bike
Animados com o resultado, Vicente e Eduardo, empreenderam uma nova etapa de revitalização, desta vez para salvar a ciclovia que também perdeu a cobertura da grama e alaga quando chove. Desde junho deste ano, eles já reciclaram mais de 200 pneus. “Pegamos as doações ou combinamos com as borracharias de trazerem para o local e nos fins de semana enchemos com a própria terra que desce das encostas, fazendo curva de nível”, explica Vicente.
O sistema tem funcionado. Na última grande chuva de outubro, os pneus seguraram a enxurrada e a ciclovia não virou lama. A próximo passo, que já está sendo executado, é plantar flores ornamentais nos pneus e a grama nos taludes.
“Outro desafio que enfrentamos são os formigueiros que estão espalhados por todo lado. Nós mesmos vamos nos revezando para comprar e espalhar o veneno. Moro há mais de 30 anos no bairro, criei meus filhos aqui e agora já chegaram as netas. Normal a gente cuidar e fazer o que está ao nosso alcance, basta ter boa vontade e disposição”, explica Cabral.
Para Vicente, é uma satisfação ver que seus esforços e perseverança têm trazido bons frutos à comunidade. “Recebemos muitas críticas também e geralmente de pessoas que nunca colocam a mão na massa para ajudar. Mas, já vimos que esse sistema dá certo e o importante é que estamos contribuindo para preservar a Orla Morena e o meio ambiente. Que possamos servir de bom exemplo”, finaliza.
Vicente Martins tira a terra da ciclovia.