Por Beatriz Magalhães
A chuva que atinge Campo Grande desde o mês passado tem gerado inúmeros transtornos para moradores que residem em ruas sem asfalto. Na lista de problemas há casas alagadas, buracos, muita sujeira e carros que acabam atolados a cada nova chuva forte que atinge a Capital.
Na Rua Taumaturgo, no Jardim Aero Rancho, as melhorias até começaram, mas foram interrompidas.
Em dezembro de 2020, a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) suspendeu as obras por 90 dias para que a concessionária Águas Guariroba pudesse realizar uma intervenção de ampliação do sistema de esgoto local.
De acordo com a concessionária, o projeto de implantação da rede de esgoto está parcialmente concluído e foi interrompido apenas para que seja finalizado o cronograma de drenagem, que é de responsabilidade do poder público.
Posteriormente, as obras de esgotamento serão finalizadas pela Águas Guariroba.
Há mais de duas décadas, Gisele Silva Penso, 41 anos, mora na Rua Taumaturgo. Cadeirante, ela reclama que tem dificuldade de transitar na rua por conta da falta de pavimentação. “Se acontecer alguma emergência, eu não consigo sair de casa sem meu marido”, explica.
De acordo com Gisele, o problema é antigo e nunca foi resolvido. “Já foi feita a obra de saneamento, e eles disseram que colocariam pelo menos pedra para melhorar, mas entraram de recesso e agora está assim”, reclama.
“Muitas vezes ele [o marido] acaba socorrendo carros atolados aqui com a caminhonete, porque as pessoas pedem Uber e eles acabam aí parados no meio da rua porque não conseguem sair do lugar. Nem o caminhão de lixo passa aqui com frequência, eles demoram vários dias para passar e aí, além do buraco e da lama, tem também o lixo”, pontua a moradora.
De acordo com a Agesul, responsável pela obra no local, o recesso será até fevereiro deste ano e, após o encerramento do prazo, os trabalhos de pavimentação serão executados, visto que o serviço de drenagem das águas da chuva está finalizado.
Mas não é isso que dizem os moradores, que reclamam de alagamentos durante as fortes chuvas que atingem a região desde o início deste ano. Em janeiro, chegou a ocorrer recorde no número de chuvas.
O esperado para o período era de 231,9 mm e, de acordo com o Centro de Monitoramento de Tempo, do Clima e dos Recursos Hídricos de MS (Cemtec), choveu 383,6 mm. Já em fevereiro, choveu 4,6 mm até o dia 4.
As obras na região tiveram início em outubro e fazem parte da lista de medidas do atual governo.
O projeto prevê a pavimentação de 11 ruas do bairro, totalizando 17 mil m² de pavimentação, implantação de 17 mil m² de restauração e um quilômetro de rede de drenagem e águas pluviais.
O investimento nas obras chega a R$ 13 milhões, sendo R$ 6 milhões de emenda parlamentar da deputada federal Rose Modesto (PSDB-MS) e R$ 7 milhões de contrapartida do governo de Mato Grosso do Sul.
ALAGAMENTOS
Mizael Souza é servidor público e mora há anos na Rua Bueno, no Aero Rancho. De acordo com Souza, sempre prometeram asfaltar a região, mas nunca cumpriram.
“Aqui é sempre assim. Chove e a água entra dentro de casa, alaga tudo. O esgoto ainda não finalizaram, só tem a marcação ali no poste”, reclama.
“Você tem que ver isso aqui na hora da chuva. Eles fizeram a galeria para pegar a água que vem de outro bairro, mas só colocaram manilha. A rua ali de baixo, que tem asfalto, não tem galeria de água, e isso aqui tudo alaga, vira um rio. Minha casa fica só lama. Uma vez a água chegou até dentro de casa, lá dentro, no meu banheiro”, conta o morador.
Na Vila Nasser, a chuva também tem causado problemas. Na Rua Três Marias, os moradores enfrentavam atoleiros e barro dentro de casa. No local, já foi iniciada a pavimentação e as máquinas estão trabalhando, mas o serviço acaba sempre interrompido pela chuva.
Outra região crítica é o Bairro Noroeste. A professora e moradora Regiane Ribeiro já viu o carro cair duas vezes em uma vala localizada na rua.
“Aqui é sempre cheio de buracos, meu carro já caiu duas vezes na vala que tem no meio da rua e ninguém arruma, não tem nenhuma previsão. Eles falam em pavimentação, mas nem vieram aqui”, afirma a professora.
Regiane mora na Rua Conquista, perto do Complexo Penal de Campo Grande, e conta que sempre tem problemas para sair com o carro, e que também vê a dificuldade dos veículos que saem do presídio transportando detentos.
“Ali na frente da escola em que meu marido trabalha também é cheio de buraco, e quando chove é péssimo”, acrescenta a professora, que se refere à Escola Municipal Professora Ione Catarina Gianotti Igydio, localizada na Rua Dois Irmãos, no Jardim Noroeste.
Ainda em 2019, a prefeitura divulgou que seriam investidos R$ 5,6 milhões no Jardim Noroeste, para poder resolver os problemas de erosão e alagamento da Chácara dos Poderes, sempre impactada pela enxurrada que desce do bairro.
Na época, o prefeito de Campo Grande, Marcos Trad (PSD), disse que “asfaltar todo o Noroeste de imediato neste momento é inviável, em função do alto custo, especialmente com drenagem”.
Desse modo, cinco ruas foram definidas para a primeira etapa para acabar com a enxurrada formada pelas chuvas na região, que desembocava na Chácara dos Poderes.