A sabatina promovida pelo setor produtivo de Mato Grosso do Sul, representado pela Fiems, Famasul, Fecomércio e Faems, contou com a participação dos dois candidatos ao governo do Estado, Capitão Contar (PRTB) e Eduardo Riedel (PSDB), que estão disputando o segundo turno das eleições. O evento, realizado nesta segunda-feira (24/10) no Edifício Casa da Indústria, em Campo Grande, reuniu uma plateia de empresários, produtores rurais, diretores sindicais e autoridades. A sabatina serviu como oportunidade para que os candidatos detalhassem suas propostas de governo e respondessem a perguntas do setor produtivo.
Ao fazer a abertura da sabatina, o presidente da Fiems, Sérgio Longen, destacou a importância da realização do encontro entre empresários e candidatos na reta final das eleições. “Tenho certeza de que será um grande evento e que marcará a posição dos setores da economia do nosso Estado. Entendo que estamos avançando no desenvolvimento da economia de Mato Grosso do Sul e essa união das federações faz toda a diferença”, disse.
O presidente Famasul, Marcelo Bertoni, defendeu a necessidade de debater projetos logísticos para que a economia do Estado continue a se desenvolver. “Temos um Estado que está andando a passos largos e precisamos avançar em alguns modelos. Em nosso setor, os modelos ferroviário e hidroviário têm de ser discutidos. Devemos utilizar esse espaço para discutir o plano de governo dos dois candidatos nestas questões do setor produtivo”, disse.
O presidente da Fecomércio-MS, Edison Ferreira de Araújo, ressaltou a união das entidades do setor produtivo para contribuir com o próximo governo. “Estamos em um momento muito importante para a nossa democracia. Os empresários do comércio de bens, serviços e turismo de Mato Grosso do Sul, que representam mais de 60% do PIB do Estado, amargaram grandes perdas econômicas e precisamos retornar ao nosso patamar pré-pandemia e alavancar nossos negócios. Nos colocamos à disposição do próximo governo para encontrarmos juntos alternativas aos principais problemas enfrentados pelos empresários e pelo nosso povo”, afirmou.
O presidente da Federação das Associações Empresariais de Mato Grosso do Sul (Faems), Alfredo Zamlutti Júnior, fez um apelo aos empresários presentes à sabatina. “Hoje é um dia especial, porque vamos escolher quem vai administrar Mato Grosso do Sul nos próximos quatro anos. Conclamo a todos os empresários que analisem bem as propostas e pensem no que é mais importante para o desenvolvimento do Estado”, disse.
Pelas regras do evento, cada candidato teve sete minutos para apresentar seu plano de governo. Em seguida, foram formuladas seis perguntas do setor produtivo, sendo duas referentes à indústria, duas referentes ao agronegócio e duas referentes ao comércio. Para cada resposta, os candidatos tiveram dois minutos. Para as considerações finais, os dois concorrentes tiveram cinco minutos.
Confira, na íntegra, as respostas dos candidatos aos questionamentos feitos pelo setor industrial.
Eduardo Riedel
Setor industrial – Atualmente, Mato Grosso do Sul tem cerca de 100 mil famílias vinculadas a benefícios sociais. Ao mesmo tempo, existem pelo menos 20 mil vagas de trabalho abertas no Estado, que não são preenchidas por falta de trabalhador qualificado. Na avaliação da indústria, os benefícios sociais afastam as pessoas do emprego. Qual sua proposta para equilibrar essa situação? Como o senhor pretende equacionar essa relação entre benefícios sociais e emprego?
Eduardo Riedel – Essa é uma área em que aprendi muito dentro do governo, quando a gente coloca essas oportunidades de emprego, que são 20 mil vagas em aberto. Eu conheço praticamente todas as indústrias do Estado. Tive a oportunidade de visitá-las. Esse movimento que estamos tendo de industrialização a partir da base agro, são indústrias extremamente modernas. Fui na Inpasa semana passada, indústria de etanol de milho que vai consumir 10% da produção de milho do Estado, e ali com 300 e poucos funcionários diretos, 80% com curso superior e acima. Vários com mestrado, alguns com doutorado. Olha o perfil de indústria que está chegando ao nosso Estado.
Sua pergunta tem uma conexão direta e uma avaliação errada, no meu ponto de vista, de que o programa social afasta a oportunidade do trabalho. Os R$ 300 que são pagos no Mais Social, e que vai para R$ 450. Se você pegar, são 167 mil famílias inscritas no CadÚnico. O que é isso? É a inscrição da miserabilidade. Da pessoa que, no seu conjunto, está excluída do processo na sociedade. Não são cidadãos em sua plenitude. Meu programa contém o Cesta Cidadania, e essa é a grande tarefa da assistência social, ir buscar no território a identificação dessas famílias. A tecnologia pode ajudar muito nisso, justamente para a gente encontrar a solução adequada para cada situação. A gente tende a colocar tudo na mesma cesta, um balaio de gatos, e não é um caminhão cheio da mesma coisa. Muito pelo contrário. O perfil de excluídos da sociedade são senhoras acima de 60 anos que têm dificuldade. Qualificação em massa é um caminho, mas a oportunidade muitas vezes não é para essa pessoa, na indústria ou na vaga de emprego formal. É isso que vamos ter de equacionar. O Cesta Cidadania é para resgatar esse contingente.
Setor industrial – Sabemos que na nossa malha viária, seja por meio de estradas, portos e rios, existem vários gargalos que prejudicam nossos produtos e os tornam menos competitivos no mercado nacional e internacional. Além disso, a Rota Bioceânica está em vias de implantação, o que promete elevar o patamar da economia estadual. Como o senhor pretende integrar as regiões produtivas de Mato Grosso do Sul para aproveitar as novas oportunidades econômicas que vão surgir a partir dessas obras viárias?
Eduardo Riedel – É ter diretriz geral e capacidade de investimento do Estado. Por isso a gente bate tanto na eficiência do Estado, em deixar essa máquina mais eficiente para ter recursos de investimento. Com 3% do orçamento, você não vai integrar nunca. Agora, com 12% do orçamento, com 15%, a gente começa a fazer uma mudança estrutural do ponto de vista de investimento para fazer isso. Segundo ponto, atração do capital privado. Quero intensificar muito isso, porque aprendemos o caminho das pedras, o Estado não tinha inteligência nessa área, da modelagem de parceria público-privada. Você atrai o capital privado para projetos viáveis, onde ele possa fazer investimentos. O presidente Bolsonaro nos delegou, tive longas conversas com o ministro Tarcísio de Freitas no ano passado, que resultaram agora nas estradas federais BR-158 e BR-436, passam para o Estado. Ele ficou muito impressionado com a modelagem da MS-306, que vai ser a mesma usada para a MS-112 e para a BR-158.
Pega o centro-sul do Estado, temos uma série de rodovias passíveis de concessão. Associado a isso, as duas ferrovias de capital privado, a própria Rota Bioceânica. O Estado tem que criar ambiente de segurança jurídica e previsibilidade de longo prazo para que a gente possa ter esse investimento privado. Portos, temos dois “Mississipis”: Paraná e Paraguai. A safra americana sai pelo rio Mississipi, nós temos dois. No Rio Paraguai, só o Estado colocou R$ 50 milhões em infraestrutura para poder viabilizar uma nova rota de escoamento e de entrada de insumos, fertilizantes, combustíveis, toda sorte de produtos. Em Corumbá é a mesma história. Além da estruturação do Pantanal, que sempre ficou à margem e que agora integra Paiaguás, Nhecolândia, ponte para Mato Grosso, portos do norte, São Pedro, descendo de barcaça para Corumbá e aproveitando melhor o rio. Essa é a integração.
Capitão Contar
Setor produtivo – A atração de investimentos privados para Mato Grosso do Sul provou-se um elemento transformador da nossa economia nos últimos 15 anos. Basta ver o salto nos indicadores econômicos com os ciclos do setor sucroenergético e da celulose. Hoje, nossa indústria é o segundo segmento em participação no PIB estadual. Qual sua proposta para atrair ainda mais indústrias? Como será sua política de incentivo?
Capitão Contar – Consultando sempre a expertise e experiência de todos os setores, através de suas federações e associações, para poder traçar sempre o melhor caminho para Mato Grosso do Sul. Adianto desde já que vamos manter e ampliar os incentivos fiscais para atrairmos indústrias e desenvolvimento ao nosso Estado. No entanto, não podemos deixar de olhar para dentro de Mato Grosso do Sul. Vejam o que aconteceu com o ramo de frigoríficos, um incentivo imenso para uma empresa que acabou fechando as portas aqui no Estado. Sempre com muito critério, cuidado, analisando gráficos, estudos, consultando todos os técnicos do governo, ouvindo associações e federações, iremos tomar sempre a melhor decisão. Queremos criar uma agência de desenvolvimento para que haja essa interlocução e consigamos trazer para Mato Grosso do Sul indústrias, empresas que possam investir, verticalizar nossa produção, já que temos grande potencial e vocação ao agronegócio. Por que não verticalizar e agregar valor à toda a nossa produção? Então, sempre com muito diálogo, ouvindo a cadeia técnica, iremos manter e ampliar incentivos. Não podemos deixar de citar a mão de obra. Não adianta a gente ampliar, crescer e esquecer da mão de obra. O governo vai estar caminhando em paralelo, trazendo iniciativas, fazendo parcerias, até com as próprias federações que dispõem de cursos profissionalizantes, para que consiga acompanhar investimento com a mão de obra.
Setor produtivo – Uma das alternativas apontadas para destravar investimentos públicos é a formação de PPPs, ou Parcerias Público-Privadas. Como avalia essa modalidade de contratação e quais áreas acredita que são estratégicas para o Estado?
Capitão Contar – O que entendo sobre as parcerias público-privadas é o seguinte: se o Estado tem pessoal, material, recursos para que consiga cumprir sua missão de entregar serviços públicos, eu acredito na força do Estado. Vou dar um exemplo: Sanesul. A Sanesul é uma empresa estatal que infelizmente tem feito parcerias público-privadas não precisando. Eu denunciei e estamos abrindo uma investigação sobre parcerias público-privadas duvidosas, que não venham ao encontro de atender o objetivo do saneamento. Parcerias são importantes, claro, desde que a gente esgote todas as alternativas internas que temos. Se a Sanesul tem capacidade de fazer a universalização do saneamento do nosso Estado, para que tanta contratação que onera o nosso consumidor? É com essa clareza que iremos tratar todas as questões das parcerias público-privadas, ouvindo e atendendo o interesse coletivo. Na área da saúde, por exemplo, as organizações sociais recebendo muitas denúncias de corrupção. As parcerias muitas vezes são formadas para levantar caixa dois, e isso não vai acontecer nesse governo. Pode ter certeza. Vamos colocar em primeiro lugar sempre o interesse coletivo.
FIEMS