Às vésperas do Oscar 2022, a tarde da TV Globo será confiada a um cult dos thrillers de ação: “Missão: Impossível” (“Mission: Impossible”), produção de US$ 80 milhões incluída na lista dos dez melhores filmes de 1996 elencados pela revista “Cahiers du Cinéma”, Bíblia do audiovisual. A sessão será às 15h, na TV aberta, numa versão dublada, com Marco Antônio Costa cedendo a voz a Tom Cruise, que produziu esse fenômeno de bilheteria que faturou US$ 457 milhões consagrando uma franquia derivada do seriado de TV homônimo, exibido de 1996 a 1973 na rede CBS. Franquia essa que já arrecadou cerca de US$ 3,5 bilhões, apoiado no carisma de Cruise, que já prepara um sétimo longa-metragem para lançar em 2023. O primeiro tomo da cinessérie, no qual estreou no papel do agente Ethan Hunt, um especialista em disfarces, teve como realizador um mito da direção: Brian Russell De Palma, hoje com 81 anos… e sumido. O mais recente trabalho dele, “Dominó”, protagonizado pelo ótimo Nikolaj Coster-Waldau, no papel de um policial em busca de vingança, passou batido pelo circuito, prejudicado por uma série de problemas de produção. Nos bastidores, falou-se em calote, falou-se que nem De Palma recebeu. Tampouco os atores foram remunerados como deveriam. Seu fracasso acabou prejudicando projetos posteriores do midas do suspense da Nova Hollywood, como “Catch and Kill” e “Sweet Vengeance”. Dois outros longas rodados pelo cineasta americano de 80 anos permanecem inéditos aqui. Exibido no Festival de Rio de 2008, “Guerra sem cortes” (“Redacted”), um libelo contra a intervenção militar de Bush no Iraque, acabou encontrando um lar na plataforma MUBI. O mesmo pode se dizer do tensíssimo “Passion”, que concorreu ao Leão de Ouro de Veneza em 2012, mas até hoje permanece zero km no circuitão. “Dália Negra”, seu último sucesso, lançado em 2006, também sumiu das telas e dos streamings. O que expeliu um cineasta desse naipe do circuito?
Nascido em 11 de setembro de 1940, em Newark, Nova Jersey, De Palma, um estudante de Física, estreou como realizador em 1960, ao rodar o curta-metragem “Icarus”. Filho de um cirurgião, a quem acompanhou em muitas operações, De Palma rodou 35 filmes nas últimas cinco décadas. Dirigiu sete curtas entre 1960 e 1966, além de um videoclipe para Bruce Springsteen, desenvolvido a partir da canção “Dancing in the dark”.
Na seara dos longas-metragens, contabiliza 31 produções, rodadas entre 1968 – quando debutou no formato, com “Murder à La mod” – e 2019 – quando “Dominó” entrou em cartaz em Israel e na Hungria. Avaliando-se tudo de bom que o diretor assinou, “Dublê de corpo” (1984), “Scarface” (1983) e “Carrie, a estranha” (1976) são considerados obras-primas em sua carreira, cujos maiores êxitos comerciais foram projetos de “encomenda”. Seus blockbusters: “Os Intocáveis” (1987), cujo faturamento beirou US$ 76,2 milhões, e “Missão: Impossível”, que lotou cinemas. No Rio de Janeiro, o finado Cine Olaria, no subúrbio, manteve o longa em cartaz por três meses a fio.
Controverso por excelência, classificado como misógino e voyeurista, De Palma foi, durante décadas, classificado como um pastichador de Alfred Hitchcock, até que uma retrospectiva realizada em 2002 no Centre Pompidou recontextualizou sua filmografia, buscando uma identidade autoral própria para além de suas referências. Em 2007, quando lançou “Guerra sem cortes”, usando elementos da linguagem digital retirados do YouTube, o cineasta declarou: “Hitchcock é o maior mestre da arte contar histórias a partir de imagens e se eu uso alguma referência de sua gramática esses elementos complexificam o que eu conto. Mas acho que hoje, após quase 50 anos como diretor, eu já tenho meus próprios métodos configurando um estilo”.
Cruise deve lançar o esperado “Top Gun: Maverick” no 75º Festival de Cannes, em maio.
Por Rodrigo Fonseca