Onde que as autoridades políticas e os especialistas em educação erraram diante da pandemia? Quem são os responsáveis por essa tragédia na vida das pessoas e, principalmente, em nossas crianças e jovens? Qual o tamanho do prejuízo causado para a sociedade e para os países?
Para procurar responder a essas perguntas precisamos entender o que foi feito, como foi feito e quais os desdobramentos das decisões tomadas.
As decisões tomadas pelas autoridades em educação, em saúde e na política diante da pandemia provocada pela Covid-19 paralisaram sistemas educacionais ao redor do mundo e, em especial, no Brasil, o fechamento das escolas afetou mais de 1,6 bilhão de estudantes. Embora quase todos os países tenham implementado soluções de ensino remoto. No caso brasileiro, a maioria das escolas particulares e algumas poucas públicas conseguiram, entretanto, parte das unidades educacionais ainda não voltaram à normalidade. A qualidade e o alcance do ensino remoto têm uma variação muito grande e, na melhor das hipóteses, foram substitutos parciais do ensino presencial.
Já se passaram quase dois anos desde o início da pandemia e milhões de crianças e jovens ainda não puderam voltar à escola. Milhões de outros correm o risco de nunca mais retomar os estudos. No caso nacional, as autoridades sequer sabem onde essas crianças estão. Perdemos a universalidade das matrículas no ensino fundamental que havíamos conquistado com muito custo.
As evidências dos impactos no aprendizado das crianças causados pelo fechamento das escolas mostram uma realidade desesperadora. As perdas foram enormes e com uma desigualdade impressionante.
Avaliações recentes realizadas por diversos institutos e organizações espalhadas pelo mundo demonstram que, em muitos países e também no Brasil, os jovens estudantes perderam a maior parte ou todo o aprendizado que tiveram e que teriam adquirido na escola em um ano letivo regular ao longo desse período. As perdas são ainda maiores para as crianças mais novas em risco social.
Segundo esses levantamentos, em São Paulo – apenas como referência e extensivo a todos os estados brasileiros –, os estudantes das escolas públicas aprenderam apenas 28% do que teriam aprendido em aulas presenciais. No caso das instituições de ensino particulares, o índice alcançar no máximo 70%. Além desses resultados, o risco de abandono ou evasão escolar mais que triplicou.
A crise global de aprendizagem provocada pelo fechamento das escolas parece ser ainda mais grave do que se temia: esta geração de alunos corre o risco de perder mais de US$ 17 trilhões de rendimento futuros em valor presente, o que equivale a 14% do atual Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Em nações de baixa e média rendas, como o Brasil, as escolas permaneceram fechadas por mais tempo que em países de renda mais alta, e as respostas das autoridades políticas foram, em geral, pouco eficazes. Os professores do primeiro grupo de países receberam apoio limitado para o seu desenvolvimento profissional e, somado a este contexto, os sindicatos laborais dificultaram o retorno utilizando argumentos questionáveis – o que dificultou a transição para o aprendizado remoto e os deixou despreparados para interagirem com os alunos e seus responsáveis.
Em casa, a capacidade das famílias de responder ao novo variou conforme o nível de renda e de acesso à internet. Crianças de famílias desfavorecidas tiveram menor aproveitamento no aprendizado remoto do que seus colegas em diferente condição de renda, geralmente devido à falta de eletricidade, de conectividade, de dispositivos e equipamentos eletrônicos e do apoio dos pais e responsáveis. Os alunos com deficiências foram, em grande parte, negligenciados pelas políticas implementadas e abandonados por completo.
Enquanto as escolas ficaram fechadas, a saúde e a segurança das crianças foram prejudicadas e houve um aumento nos índices de violência doméstica e de trabalho infantil. Milhões de crianças ao redor do mundo deixaram de ter acesso à merenda escolar, perdendo a única fonte diária e segura de alimento e nutrição. Somado a esse contexto, se espera que a crise de saúde mental entre os jovens possa atingir níveis sem precedentes.
A experiência mostrou que o custo de manter as escolas fechadas é alto e ameaça prejudicar toda uma geração de crianças e jovens, ao mesmo tempo em que aumenta as disparidades socioeconômicas pré-pandêmica. Reabrir escolas e mantê-las abertas deve, portanto, ser a principal prioridade dos governantes. Cada vez mais, as evidências indicam que, com medidas adequadas, é possível minimizar os riscos à saúde das crianças e dos profissionais de educação.
Chegou o momento de passarmos da crise à recuperação da sustentabilidade da sociedade e da nação, e de pensarmos e estruturarmos sistemas educacionais resilientes e transformadores, que realmente proporcionem aprendizado e bem-estar para todas as crianças e os jovens. Apesar de algumas deficiências das iniciativas de aprendizagem remota, existem aspectos positivos e de inovações que foram estabelecidos.
O ensino remoto e híbrido se tornou uma realidade com a chegada da pandemia e tem o potencial de transformar a aprendizagem. Para tal, é preciso que os sistemas atuais de educação sejam fortalecidos e adequados às novas tecnologias – que se apresentam com soluções muito promissoras – e, em complemento, os professores estejam dispostos a se reinventarem e se qualificarem para esse “novo” que se apresenta.
A sociedade não pode mais admitir erros desse quilate ocorridos mundo a fora, muito menos isentar de responsabilidade as autoridades pelas decisões errôneas, ainda que tenham sido com boas intenções. Os setores que se posicionaram de forma contrária não foram ouvidos, os governantes foram absolutos em suas decisões e causaram prejuízos enormes à vida das pessoas, à sociedade, aos países. Esses líderes ocupam cargos que lhes foram conferidos pelos cidadãos que esperam deles a capacidade e a responsabilidade pelos seus atos, que jamais poderão ser esquecidos.
Por Antônio Eugênio Cunha