Gravação em que escritor diz ‘posso morrer agora mesmo e não estou nem ligando’ circula sem data no Instagram
Circula sem contexto no Instagram um vídeo em que o escritor Olavo de Carvalho diz que só quer que Deus perdoe seus pecados. “Eu posso morrer agora mesmo e não estou nem ligando”, afirma ele na gravação. A frase, no entanto, é antiga: circula na internet pelo menos desde 2017. Olavo morreu na noite desta segunda-feira, 24, aos 74 anos.
O vídeo em que o escritor diz que tem esperança de ter seus pecados perdoados voltou a circular após o anúncio de sua morte. Uma página no Instagram afirma que “antes de partir, Olavo também abriu o coração durante uma live ao falar sobre a sua fé em Deus”. A postagem não deixa claro que a declaração do escritor não é recente.
Um blog dedicado a Olavo de Carvalho publicou a citação em 22 de agosto de 2017. Segundo a postagem, a fala foi dita durante encontro online com Hermes Nery. Olavo disse o seguinte, segundo a transcrição do blog:
“Mil vezes na vida eu passei pela situação onde eu perdia tudo, não sobrava nada, nada, nada. E sobrava somente uma coisa: sobrava Deus, sobrava esperança do perdão dos meus pecados e esperança na vida eterna. É só isso que eu tinha. E é só isso que eu tenho. Eu não tenho mais nada. Eu posso morrer agora mesmo e não estou nem ligando. Eu só quero uma coisa: eu quero que Deus me perdoe os meus pecados e me leve para perto d’Ele. É só isso que eu quero”.
O blog publicou o mesmo texto em agosto de 2018. Desta vez, afirmou que a data do encontro entre Olavo e Hermes foi em 7 de agosto de 2014.
O Estadão Verifica não encontrou registros em vídeo da fala de Olavo. De qualquer forma, é possível determinar que o conteúdo é antigo, uma vez que aparece em outras postagens de admiradores do escritor em diferentes ocasiões (1, 2). Além disso, não há publicações recentes com a gravação nas redes sociais do ideólogo.
Olavo de Carvalho morreu na região de Richmond, na Virgínia, nos Estados Unidos, onde estava hospitalizado. A causa da morte ainda não foi divulgada. No dia 15 de janeiro, a equipe do escritor anunciou que ele foi diagnosticado com covid-19.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
Por Alessandra Monnerat