Dados mostram que, quanto menor a renda ‘per capita’ do Estado, menor a porcentagem da população vacinada
Após uma forte segunda onda de covid-19 no primeiro semestre de 2021, quando o número de casos ultrapassou a casa dos 60 mil/dia e o número de óbitos, mais de 3,3 mil/dia, a pandemia no Brasil tem mostrado forte desaceleração. O número de novos casos caiu para níveis próximos de 6 mil/dia e o de óbitos está abaixo de 200/dia, na média móvel das últimas semanas. E os números continuam em queda.
Segundo os epidemiologistas, esta evolução da pandemia está associada ao processo de vacinação. De um lado, o Ministério da Saúde colocou à disposição mais de 350 milhões de doses de vacinas, das quais cerca de 300 milhões já foram aplicadas pelos municípios. Por outro lado, existe uma tradição de vacinação arraigada no País, com pouca ou praticamente nenhuma resistência a vacinas.
Esta combinação de disponibilidade de vacinas, tradição de vacinação e um sistema público de saúde gratuito para toda a população (SUS) permitiu que em menos de um ano o Brasil tenha conseguido vacinar 75% de sua população com uma dose e 66% com duas doses de vacinas, um grande sucesso para um país de 210 milhões de habitantes.
Se em nível nacional o cenário é bastante positivo, em nível regional e por renda per capita o comportamento é pouco homogêneo e preocupante.
Enquanto as Regiões Sudeste e Sul têm, respectivamente, 7,5% e 9,0% de suas populações acima de 12 anos não vacinadas, no Nordeste e no Norte 14,2% e 23,1% de suas respectivas populações acima de 12 anos não foram vacinadas – níveis similares aos de países que estão vivendo a quarta onda da pandemia na Europa, como Áustria (24,8%), Alemanha (23,1%) e Suécia (16,1%).
O acesso a vacinas também é desigual quando olhamos o nível de renda. Os dados mostram que, quanto menor a renda per capita do Estado, menor a porcentagem da população acima de 12 anos já vacinada, e quanto maior a porcentagem de pobres, maior a porcentagem da população acima de 12 anos não vacinada.
Em suma, a pobreza continua sendo um fator determinante da desigualdade de acesso da população a vacinas.
Na Região Norte, as distâncias e o difícil acesso justificam, em parte, a baixa taxa de vacinação. Mas é fundamental agilizar o processo de vacinação nessa região, para evitar que as condições sejam favoráveis a uma retomada da pandemia.
No caso dos pobres, o resultado é injustificável. É fundamental, a partir de agora, focalizar o processo de vacinação nos mais pobres.
Por José Márcio Camargo