Por Jonathan Amos/Repórter de ciência da BBC
O drone, chamado Ingenuity, ficou no ar por menos de um minuto, mas a Nasa celebra o que foi o primeiro voo controlado por uma aeronave em outro planeta. A confirmação veio por meio de um satélite em Marte, que transmitiu os dados do helicóptero para a Terra.
O helicóptero foi levado a Marte acoplado ao robô Perseverance da Nasa, que pousou na cratera de Jezero no Planeta Vermelho em fevereiro.
A agência espacial está prometendo voos mais aventureiros nos próximos dias. O Ingenuity será comandado para voar mais alto e mais longe, enquanto os engenheiros procuram testar os limites da tecnologia.
“Agora podemos dizer que os seres humanos fizeram voar um helicóptero em outro planeta”, disse MiMi Aung, a gerente de projeto do Ingenuity no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês) em Pasadena, Califórnia.
“Temos falado há muito tempo sobre o nosso ‘momento irmãos Wright’ em Marte, e aqui está.”
Esta é uma referência a Wilbur e Orville Wright, que conduziram o primeiro voo de aeronave controlada e motorizada na Terra, em 1903. (O voo de 260 metros ocorreu três anos antes de Santos Dumont voar 60 metros com o 14-Bis, em Paris, em 1906, diante de uma multidão. Até hoje, não há uma versão definitiva, e reconhecida internacionalmente, para a paternidade da aviação.)
O Ingenuity carrega até uma pequena amostra de tecido de uma das asas do Flyer 1, a aeronave que fez o voo histórico em Kitty Hawk, Carolina do Norte, há mais de 117 anos.
Houve aplausos no centro de controle quando as primeiras fotos do voo chegaram à Terra. Ao fundo, a voz da engenheira MiMi Aung era ouvida: “É real!”
Com aplausos de seus colegas, ela rasgou o discurso de contingência (aquele que teria sido usado se a tentativa não tivesse dado certo).
A operação viu o pequeno helicóptero subir cerca de 3m, pairar, girar e pousar. Ao todo, conseguiu quase 40 segundos de voo, da decolagem até o pouso.
Voar no Planeta Vermelho não é fácil. A atmosfera é muito fina, com o equivalente a apenas 1% da densidade aqui na Terra. Isso torna desafiador para as pás de um helicóptero conseguirem ganhar sustentação.
Há ajuda da gravidade mais baixa em Marte, mas ainda assim é muito trabalhoso sair do chão.
Por isso, o Ingenuity foi feito extremamente leve e recebeu o poder de girar as pás extremamente rápido (a mais de 2.500 rotações por minuto para este voo em particular).
O controle era autônomo. A distância até Marte (atualmente pouco menos de 300 milhões de km) significa que os sinais de rádio levam minutos para atravessar o espaço intermediário. Voar por joystick (controle remoto) estava simplesmente fora de questão.
O Ingenuity possui duas câmeras a bordo. Uma câmera em preto e branco que aponta para o solo, usada para navegação, e uma câmera colorida de alta resolução que olha para o horizonte.
Uma amostra de imagem de navegação enviada à Terra mostrou a sombra do helicóptero quando ele voltava para o solo. Os satélites enviarão mais fotos no dia seguinte. Havia apenas largura de banda suficiente no primeiro sobrevoo para enviar um pequeno trecho de vídeo do Perseverance, que estava assistindo e fotografando a uma distância de 65m. Sequências mais longas do vídeo devem estar disponíveis daqui algum tempo.
A Nasa anunciou que a “pista de pouso” em Jezero, onde o Perseverance deixou o Ingenuity para sua demonstração, será conhecido de agora em diante como “Campo dos Irmãos Wright”.
Um voo inaugural bem-sucedido significa que mais quatro tentativas de voo serão feitas nos próximos dias, cada uma buscando levar o helicóptero para mais longe.
A esperança é que esta demonstração inicial possa eventualmente transformar a forma como exploramos alguns planetas distantes.
Drones podem ser usados para patrulhar robôs futuros e até mesmo astronautas quando eles chegarem a Marte.
“Trata-se realmente de ter uma ferramenta que não pudemos usar antes e colocá-la na caixa de ferramentas que está disponível para nossas missões futuras em Marte. Então, para mim, é muito emocionante pessoalmente e, para a comunidade em geral, isso abre novas portas”, disse Thomas Zurbuchen, chefe de ciência da Nasa.
“Seremos capazes de explorar áreas em que não podemos usar um robô. Algumas das paredes da cratera, por exemplo, são tão empolgantes; os cientistas têm escrito artigos sobre elas.”
A Nasa já aprovou uma missão de helicóptero a Titã, a grande lua de Saturno. A Dragonfly, como a missão é conhecida, deve chegar lá em meados da década de 2030.