Por Eduardo Miranda
As votações que ocorrerão hoje no Senado e na Câmara dos Deputados serão determinantes para a segunda metade do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na Presidência da República.
O governo federal aposta em duas candidaturas, do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), para ter mais tranquilidade para cumprir promessas de campanha, como as ligadas a pautas de costumes e armamentistas, e também ter menos enfrentamentos com o Congresso.
Já a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), embora neguem qualquer oposição mais ferrenha ao governo de Jair Bolsonaro, têm como principal bandeira de suas campanhas uma postura mais independente do Congresso Nacional, como o poder moderador e fiscalizador do Poder Executivo. Eles também falam em acelerar reformas, como a tributária.
SENADORES DE MS
Em Mato Grosso do Sul, os parlamentares estão divididos para as eleições, que estão marcadas para as 18h desta segunda-feira e que definirão os ocupantes do terceiro e quarto cargos da linha sucessória da Presidência da República.
No Senado é onde a disputa está mais dispersa. Simone Tebet tenta repetir o feito de seu pai, Ramez Tebet, que presidiu o Senado no fim de seu mandato, e pode ficar sem nenhum voto de seus colegas de bancada.
Nelson Trad Filho (PSD) já reiterou que acompanhará seu partido e que votará em Rodrigo Pacheco para presidente. O sul-mato-grossense, que atualmente é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, pretende, no mínimo, manter o cargo que ocupa.
Porém, ele também pretende alçar voos maiores, seja na Mesa Diretora, seja se capitalizando para ocupar o Ministério das Relações Exteriores, no caso de Jair Bolsonaro ceder a algumas pressões e exonerar Ernesto Araújo.
Soraya Thronicke (PSL) mantém o silêncio desde o início da disputa. A estratégia da senadora é a de não se indispor com a colega de bancada Simone Tebet e também não se distanciar de boa parte de sua base, que apoia o presidente Jair Bolsonaro.
Não será surpresa se Soraya Thronicke votar em seu colega de bancada Major Olímpio (PSL-SP), caso Pacheco mantenha a margem folgada sobre Simone Tebet que os prognósticos indicam.
REFORÇO DE MINISTRA
A Câmara dos Deputados é onde a disputa tem tudo para ser mais acirrada. E é por isso que a parlamentar mais poderosa do momento da bancada de Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina (DEM), deixou o Ministério da Agricultura na sexta-feira: somente para participar das eleições e garantir mais um voto para Arthur Lira, candidato de Jair Bolsonaro.
A cúpula do governo federal não quis assumir o risco de manter a suplente de Tereza Cristina, Bia Cavassa (PSDB), que poderia votar em Baleia Rossi, como vai fazer o também tucano Beto Pereira.
Rose Modesto (PSDB), apesar de não revelar o voto, poderá seguir caminho oposto ao de Beto Pereira. Ontem, o Placar Estadão apontava que Rose votaria em Lira.
Para não entrar em conflito com a base e evitar constrangimento com o governo, os dois deputados do PSL, Luis Ovando e Loester Trutis, também devem votar em Lira.
Além de Beto Pereira, Baleia Rossi deverá contar em Mato Grosso do Sul com os votos de Dagoberto Nogueira (PDT) e Vander Loubet (PT).
O nome de Vander, porém, é apontado pelo Placar Estadão entre os deputados indecisos: pudera, embora o PT tenha confirmado apoio a Rossi, há deputados cujas bases são municipalistas e fortemente comprometidas com a liberação de emendas, como a de Loubet, que poderão trair o PT.
A maior incógnita de Mato Grosso do Sul é o deputado Fábio Trad (PSD). Famoso por marcar posição como independente e fazer discursos duríssimos contra a gestão do presidente da República, Trad tem adotado o silêncio. Parte de sua base o pressiona para votar em Baleia Rossi, mas seu partido, o PSD, dará apoio majoritário a Lira.
Na outra Casa, o Senado, seu irmão, Nelson, está fortemente comprometido com as pautas governistas.
Nos bastidores, comenta-se que é grande a possibilidade de Trad marchar com Lira e deixar eventuais descontentamentos com sua base para depois.
AS ELEIÇÕES
O Congresso Nacional volta aos trabalhos neste mês de fevereiro marcado por pressões das ruas, que questionam a gestão do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia de Covid-19.
O avanço dos casos e das mortes no período somado ao atraso na vacinação têm elevado a pressão sobre o governo.
E é da presidência das Casas que vêm o poder para enfrentar essas pressões. O presidente da Câmara é quem tem o poder de abrir um processo de impeachment contra o presidente da República. Já são pelo menos 60 pedidos aguardando uma definição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que deixa a presidência da Casa de Leis.
O presidente da Câmara também é o terceiro na linha sucessória da Presidência – só fica atrás do presidente, Jair Bolsonaro, e do vice, Hamilton Mourão (PRTB).
No Senado, o presidente da Casa também comanda o Congresso Nacional e é quem tem o poder de pautar projetos importantes, como emendas constitucionais.
Além disso, é o presidente do Senado que pode abrir processos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), órgão máximo do Poder Judiciário e que tem sido alvo de muitas críticas de políticos alinhados a Jair Bolsonaro.
Os presidentes da Câmara e do Senado, juntos, têm o poder de nomear nada menos que 700 servidores e mais 3 mil colaboradores, entre terceirizados e comissionados. Eles ainda podem abrir comissões parlamentares de inquérito (CPIs), velhas conhecidas dos brasileiros, mas que passaram longe da gestão de Jair Bolsonaro.
As eleições começam às 18h nas duas Casas e serão presenciais. A maioria dos votos em cada casa é suficiente para fazer o vencedor. O Senado tem 81 representantes, e a Câmara dos Deputados, 513.