Por Felipe Laurence
A Vtex, empresa brasileira do setor de soluções para o comércio eletrônico, anunciou nesta segunda-feira, 28, que arrecadou R$ 1,25 bilhão em uma rodada de financiamento. Com o aporte, a empresa está avaliada em US$ 1,7 bilhão, o que a tornan o – categoria de startups que são avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão. É o segundo unicórnio brasileiro de 2020 – o primeiro foi a startup de imóveis Loft, em janeiro.
Segundo a empresa, o financiamento contou com a participação dos fundos Tiger Global, Lone Pine Capital, Constellation, Endeavor Catalyst e SoftBank. No ano passado, o grupo japonês SoftBank já havia liderado uma rodada de US$ 140 milhões na empresa, com a participação do Constellation e do Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga – ao todo, a Vtex levantou US$ 365 milhões nos últimos 10 meses.
Segundo Rafael Forte, presidente da Vtex Brasil, o apetite dos investidores se deve à intensa digitalização da economia causada pela pandemia e pelo crescimento do comércio eletrônico durante o período de isolamento social. “Apesar da fatalidade que estamos vivendo, não dá para ignorar que ela acelerou digitalização. O interesse dos investidores, que já era grande em função do que a empresa vinha entregando, aumentou”, diz o executivo, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Em condições normais, talvez a rodada só viesse em 2021 ou 2022”, afirma.
A rodada vem em meio a um ano de alto crescimento para a Vtex, em decorrência das mudanças causadas pela pandemia do novo coronavírus. A companhia espera fechar 2020 com um aumento de 114% no crescimento ano a ano e um recorde de US$ 8 bilhões em volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês).
Dona de uma plataforma que permite a grandes marcas criarem suas próprias lojas online, a Vtex fatura com a comissão das vendas realizadas por seus mais de 3 mil clientes, em 48 países diferentes. “Nós somos uma plataforma de comércio unificado para grandes marcas: cuidamos tanto das transações no comércio eletrônico, como também apoiamos a gestão de vendas físicas e de casos em que o cliente compra online, mas retira o produto na loja”, explicou ao Estadão, no ano passado, o cofundador e copresidente executivo da startup, Mariano Gomide de Faria.
Forte estima que a empresa vai encerrar o ano de 2020 com um aumento de 114% no crescimento ano a ano e um recorde de US$ 8 bilhões em volume bruto de mercadorias. “Já vínhamos crescendo de forma constante, cerca de 44% ao ano nos últimos anos. Agora, com o movimento dos clientes subindo cerca de 90%, vamos ter esse (crescimento no) faturamento.”
Para Forte, a digitalização forçada trouxe desafios em duas vertentes para a Vtex: absorver novos clientes que queriam iniciar operações digitais, além de atender a novas demandas dos clientes já existentes – incluindo nomes como Whirlpool, Coca-Cola, Sony e Nestlé.
Origem brasileira deu ‘casca’ para a empresa
Com os recursos levantados na rodada anunciada hoje, a Vtex pretende fortalecer sua posição dentro do Brasil, com abertura de novas vagas, pesquisa e desenvolvimento de soluções em inteligência artificial, além de iniciar uma expansão nos EUA e Europa. “Nascemos no Brasil, consolidamos o mercado aqui, e já vínhamos tateando esses mercados há algum tempo”, diz Forte.
“O mercado brasileiro é naturalmente hostil e tem uma complexidade maior que o resto do mundo. Nossa solução nasceu e foi desenvolvida com esse viés. Lá fora, os clientes ficam bastante surpresos com a flexibilidade e criatividade dos nossos serviços”, comenta o executivo. Segundo ele, a Vtex vê ainda bastante mercado a ser explorado no exterior e espera usar esses recursos para aumentar a escala e criar cases de sucesso.
Empresa já mira abertura de capital
Com a nova rodada, a Vtex agora já começa a pensar em uma possível abertura de capital (IPO, na sigla em inglês). Fontes do mercado comentam que uma oferta pode acontecer na Nasdaq, em Nova York, em 2021. “A gente vem preparando a empresa para o IPO há alguns anos”, diz o presidente da Vtex Brasil.
“Não dá pra cravar uma data, mas entendemos que o mercado está com condições favoráveis. Em março, a gente não imaginava que agora em setembro estaríamos realizando uma nova rodada, então não dá para falar como vai estar o ano que vem”, diz. “É um desejo nosso, mas não é uma obrigação, e o importante é que estamos preparados para realizar a oferta.”