Daiany Albuquerque
O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal de Campo Grande, Julio Croda, avalia que em um mês, Campo Grande deverá entrar em lockdown, caso o número de infectados e de internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) continuem crescendo na cidade, no mesmo ritmo dos últimos dias. Para ele, a discussão da volta às aulas, nesse cenário, seria inútil já que as instituições permaneceriam abertas por apenas um mês.
Nesta quarta-feira (24), prefeitura de Campo Grande, Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), entidades representativas das escolas particulares, Secretaria Municipal de Educação (Semed), Câmara Municipal e Ordem dos Advogados do Brasil – seccional de Mato Grosso do Sul (OAB/MS) fazem uma reunião para definir sobre o retorno ou não das aulas presenciais na Capital.
A medida seria válida para alunos das séries iniciais, a educação infantil, que vai dos 6 meses aos 7 anos na educação particular. Sobre as escolas públicas, o prefeito Marcos Trad (PSD) afirmou que a decisão sobre a volta ou não também seria definida hoje. O decreto em vigor atualmente mantém as aulas remotas até o dia 30 de junho deste ano.
“A criança transmite e em muitos momentos ela é a assintomática, fora a questão da adesão a máscara e possível face shield (máscara antirrespingos). Campo Grande vai abrir o hospital de campanha ainda esse mês, com esse ritmo. Até final de julho vai precisar fechar a Capital também, então não tem sentido abrir escola para fechar em menos de um mês”, declarou Croda, que é médico infectologista.
Para o pesquisador, como o ritmo da doença aumentou na Capital e com isso o número de leitos ocupados também, a tendência é que “no máximo em agosto”, essa medida de fechamento completo deverá ser tomada. “Se continuar o ritmo de internação, dobrou em uma semana, então vai ter que fechar”.
De acordo com dados do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) desta terça-feira (23), Mato Grosso do Sul tem 159 casos confirmados internados por conta da Covid-19 em leitos daqui, mais dois sul-mato-grossenses no Paraná, sendo que a maioria está em leitos públicos (53 clínicos e 48 UTIs). O documento mostra que Campo Grande tinha ontem 71% dos leitos totais da cidade de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados no Sistema Único de Saúde (SUS).
Em relação à rede privada, a situação dos leitos de UTI é ainda pior. No Hospital da Unimed a lotação chegou a 80% na semana passada no setor reservado para esses atendimentos, e no da Cassems estava em 63% no fim de semana, no mesmo setor. Já no Proncor a reportagem foi informada de que a situação no setor também era de 80% das vagas em UTI da Covid-19 ocupadas.
Perguntado sobre os outros seguimentos que já foram abertos pela prefeitura, o médico afirmou que “agora que flexibilizou tudo é esperar até atingir 80% e fechar tudo. Não adianta fechar só um ou outro seguimento nesse momento”, orientou.
OUTRO LADO
O presidente da Associação de Instituições de Ensino Particular de Campo Grande, Lúcio Rodrigues Neto, porém, pensa diferente do pesquisador. Para ele, as escolas “não são foco de transmissão de Covid-19”.
“Os bares, restaurantes, shoppings e igrejas continuam abertos e as escolas estão sendo punidas por falta de rigor científico. Não temos internações de crianças e o número de infectados são baixíssimos. E a maioria pegou de um adulto que estava doente, então a gente não tem transmissão de criança para criança”, alega o empresário.
Rodrigues também reclama sobre a falta de informações, que segundo ele, não estão disponíveis para todos nas bases de dados do município e também do governo do Estado. “Eles deveriam divulgar todos os dados, o certo seria centralizar esses números em algum lugar para que pudéssemos consultar”.
O presidente da Associação afirmou que as instituições estão trabalhando como se fossem retornar às atividades já no dia 1º de julho, que foi uma data preestabelecida na última reunião do grupo. “Estamos trabalhando com a informação de que vamos retornar. Até porque não faríamos isso se tivesse um surto grande na cidade, esse aumento que vemos é por conta do aumenta da testagem”.