Por Bruna Aquino
As aldeias indígenas de Dourados se tornaram alvo fácil devido ao avanço da pandemia do novo coronavírus em Mato Grosso do Sul. Situação essa que preocupa as autoridades de saúde pública e entidades que auxiliam os indígenas em combate a covid-19. Desde o primeiro caso que ocorreu em um frigorífico da região, a doença se espalhou rapidamente em poucos dias. Levantamento do Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul (DSEI–MS), aponta que vivem no Estado mais de 83 mil indígenas, segunda maior população do país.
Segundo boletim divulgado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), no Estado, mas especificamente na região de Dourados e Caarapó os casos duplicaram em 24 horas e passou de 34 para 74 casos confirmados em indígenas e dois suspeitos. Com a rapidez de casos, esse índice é quase a metade do número total de casos positivos na cidade, que registrou hoje, conforme boletim epidemiológico, 197 confirmações da covid-19.
O perfil dos casos confirmados do novo coronavírus em índios da destaque na população masculina (53%) entre os mais jovens com idades entre 20 a 29 anos. Enquanto isso, mulheres destacam (43%) do total de casos com o mesmo perfil jovem.
Ainda segundo boletim da Sesai, os casos confirmados e suspeitos na região de Dourados estão concentrados (91%) nas aldeias da etnia Guarani/Kaiowá e menor incidência (9%) na tribo Terena.
O primeiro caso em Dourados do novo coronavírus com indígenas foi confirmado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) no dia 13 de maio. A indígena de 35 anos é da aldeia Bororó na região e trabalha no frigorífico da JBS onde teria trabalhado mesmo com sintomas da doença. O frigorífico então informou que tomou uma série de medidas para conter o avanço da doença, como retirar do trabalho, funcionários em situação de risco como idosos além de redobrar a higiene.
Para o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) de Dourados que atua a frente dos trabalhos de enfrentamento a pandemia, Flávio Machado, a situação é preocupante, principalmente com o espalhamento que houve em outras aldeias, em função dos trabalhadores indígenas que ainda estão trabalhando nos frigoríficos.
“Isso para nós é muito grave, porque se trata de uma população muito específica e que precisa ser atendida de forma específica também. Temos apoiado as decisões da justiça que ordena o afastamento desse trabalhador, em função do risco que representa para sua comunidade, porque possui hábitos culturais alimentares totalmente diferentes da comunidade não indígena que são maiores propagadores de contágio, estamos muito preocupados com esses trabalhadores”, disse.
Segundo o coordenador, o trabalho está sendo de tentar apoiar o isolamento as famílias que testaram positivo para a doença. As famílias estão sendo acolhidas em abrigo disponibilizado pela Diocese de Dourados, mas que há dificuldade da operacionalização por conta da quantidade de pessoas. “ A gente entende que isso é responsabilidade do poder público, do sistema de saúde, o município de Dourados possui verbas específicas para atendimento à população indígena e a gente entende que esses recursos devem ser usados de maneira urgente neste momento para o isolamento fora da aldeia”, explicou.
Ao Correio do Estado, o secretário Estadual de Saúde Geraldo Resende explicou que são mais ou menos 50 ações de enfrentamento que estão sendo realizadas na região, principalmente com a população indígena como unidades sentinelas e comitê de enfrentamento, mas grande parte das ações em conjunto com outras entidades. “A preocupação é com todas cidades de Mato Grosso do Sul sim, mas principalmente na região de Dourados, nós estamos dialogando, é uma união de esforços entre o Governo do Estado com entidades no enfrentamento da Covid-19”, explicou Resende.