Estadão Conteúdo
A decisão do Banco Central, de cortar a taxa básica de juros para 3% e ainda sinalizar nova queda, fez o dólar bater recorde no Brasil. Enquanto outras moedas de países emergentes se valorizaram nesta quinta-feira, 7, ante o dólar, em dia de bom humor no exterior, o real foi na contramão e, novamente, ficou com o pior desempenho, considerando 34 moedas internacionais.
A perspectiva de que o Brasil passe a ter juros reais negativos em breve deve afugentar ainda mais os investidores estrangeiros do País, segundo profissionais das mesas de câmbio nesta quinta-feira. O dólar à vista subiu 2,43%, a quinta alta seguida, para R$ 5,8409, novo recorde desde o Plano Real. No mercado futuro, o dólar junho era negociado na casa dos R$ 5,85 no final da tarde.
O Banco Central fez duas intervenções extraordinárias no mercado, vendendo US$ 500 milhões em swap pela manhã e mais US$ 500 milhões no final da tarde. Nas duas operações, o leilão teve pouco efeito, porque segundo operadores, o mercado queria também dólar à vista e, além disso, ação mais intensa da autoridade monetária no câmbio. Na máxima do dia, a moeda americana bateu em R$ 5,87. O dólar deve testar os R$ 6,00 em “questão de dias”, disse um ex-diretor do BC, citando ainda o clima político ruim e a perspectiva de piora forte da atividade.
O dólar dispara 45% no ano e 7,4% este mês – nos dois casos, o pior desempenho entre as moedas de emergentes.
“O real permanece para nós como uma das moedas de país emergente com o maior risco de piora”, afirma a analista de moedas do Commerzbank, Antje Praefcke. Ela observa que o BC deixou as portas abertas para um novo corte de juros em junho, de até 0,75 ponto porcentual, o que ajuda a pressionar ainda mais o câmbio. O ambiente doméstico brasileiro – que mistura a necessidade de juros baixos para fazer face a piora da atividade, uma piora das contas fiscais e turbulência política – é negativo para o real.
O ex-diretor do BC, Sergio Goldenstein, alerta em seu Twitter que o Brasil está caminhando para um juro real negativo e, se ajustado pelo prêmio de risco, a comparação com outros países fica pior. Para ele, a Selic mais baixa “pouco ou nada contribuirá” para reverter o cenário de atividade fraca e tende a acentuar a desvalorização cambial, aumentando a distorção de preços relativos.
“O dia foi tenebroso. O corte de juros surpreendeu e deixou a sinalização de nova redução em junho, que pode ser da mesma magnitude”, afirma o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem.