Por David Beard
“Somos nós que fazemos a diferença”, disse a adolescente sueca aos jovens londrinos em abril de 2019. “Não devia ser assim, mas como não há mais ninguém a fazer nada, temos de ser nós a fazê-lo… Nunca deixaremos de lutar por este planeta, por nós próprios, pelo nosso futuro e pelo futuro dos nossos filhos e netos.”
Hoje estamos focados em salvar um mundo assolado por uma pandemia global. Há 50 anos atrás, as pessoas saíram às ruas, no primeiro Dia da Terra, para tentarem salvar o próprio planeta.
Enquanto vivemos tempos conturbados, a National Geographic explora uma questão mais profunda: que tipo de mundo teremos daqui a 50 anos, no centésimo aniversário do Dia da Terra?
Tanto os otimistas como os pessimistas acreditam que estamos a viver um tipo de ponto de viragem, onde as ações (ou inações) nos podem levar por um caminho ou por outro. A edição mais recente da revista National Geographic inclui ensaios convincentes que abordam ambos os pontos de vista.
Qual é a abordagem do copo meio cheio? A escritora Emma Marris cita o aumento da eficiência dos automóveis, a energia solar e eólica, e o aumento na capacidade das baterias como os blocos de construção para um mundo melhor. Emma prevê uma interrupção nos financiamentos à produção de carne, algo que incentivaria alterações em todos os vetores da sociedade para uma alimentação mais virada para os vegetais. E também escreve que a intervenção governamental, impulsionada por uma consciencialização mais abrangente entre jovens e idosos, pode fazer com que as empresas e os indivíduos modernizem os edifícios, acabem com as fornalhas de petróleo e de gás, e pode ajudar a retirar 1.3 mil milhões de poluidores a gasolina das estradas.
“O dinheiro de que estamos a falar não é superior aos valores com os quais resgatámos os bancos”, escreve Emma Marris, citando Jonathan Foley, do Projeto Drawdown, que faz análises de custo-benefício para soluções referentes às alterações climáticas. Foley referia-se à recuperação que se seguiu à recessão de 2008-2009 (embora no horizonte pareça estar outro resgate financeiro para responder à COVID-19).
Regressando às boas notícias, Emma Marris escreve que a educação já melhorou o mundo de formas que vão para além do óbvio. As mulheres no Quénia, por exemplo, ao conseguirem um acesso amplo à educação e ao controlo de natalidade, passaram de uma média de 8.1 filhos, na década de 1970, para apenas 3.7 filhos em 2015.
Em relação às nossas atitudes perante a natureza, Emma afirma que o pensamento híbrido vai substituir o absolutismo. As grandes quintas vão coexistir ao lado de jardins urbanos verticais. “As fronteiras vão ser menos acentuadas; e os jardins mais desarrumados. A natureza vai atravessar quintas e cidades; as planícies de inundação vão armazenar carbono, produzir alimentos e controlar inundações. E as crianças vão escalar às árvores nos pomares das escolas para colher fruta.”
Emma Marris encara a nossa maior ameaça – as alterações climáticas – como uma oportunidade para as nações mais ricas ajudarem as mais pobres. “É uma oportunidade para nos chegarmos à frente – e ganharmos juízo – enquanto espécie.” Em 2070, o Dia da Terra de Emma será uma festa, num lugar onde os políticos concordam universalmente sobre as maleitas dos combustíveis fósseis, todo o comércio de café será justo e o chilrear dos pássaros soará claramente sobre o ruído reduzido do tráfego urbano.
Mais devagar, argumenta relutantemente Elizabeth Kolbert, autora de A Sexta Extinção: Uma História Contranatura. Em 2070, Elizabeth acredita que a subida das águas do mar vai fazer com que as Ilhas Marshall e as Maldivas fiquem inabitáveis; e a região de Norfolk, no estado da Virgínia, vai ficar inundada durante seis meses por ano; e locais como a Austrália e a Califórnia vão ser reduzidos a carvão e cinzas durante as temporadas mais longas e intensas de incêndios florestais.
O nosso futuro, escreve Elizabeth, depende da quantidade de carbono que vamos emitir durante os próximos 50 anos – e qualquer coisa que não seja um encerramento total vai fazer com que os níveis de carbono na nossa atmosfera (e a temperatura do planeta) continuem a subir. O desflorestamento continua em andamento, assim como a extinção da fauna e da flora que nos rodeia. Para todas as espécies que estão à beira do esquecimento, muitas outras parecem seguir a mesma direção.
Elizabeth Kolbert não consegue alimentar uma sensação de otimismo em relação ao nosso futuro, ou partilhar a visão de um alegre Dia da Terra em 2070, mesmo sabendo que os avanços tecnológicos podem resolver alguns dos nossos problemas.
“Talvez as pessoas consigam aperfeiçoar drones para polinizar (já estão a ser testados.) Talvez também seja possível descobrir formas de lidar com a subida do nível do mar, e com a violência cada vez maior das tempestades, ou maneiras de lidar com as secas mais prolongadas. Talvez as novas culturas geneticamente modificadas nos permitam continuar a alimentar uma população em crescimento, mesmo quando o mundo continua a aquecer. E talvez possamos descobrir que a ‘teia interligada da vida’ não é essencial para a existência humana.”
Portanto, qual vai ser o nosso futuro? Será que vamos determinar o seu rumo – ou será que não está nas nossas mãos? Enquanto trabalho para terminar este artigo, antes do amanhecer, um pássaro canta do lado de fora da minha casa. Retiro uma pequena coleção de discursos de Greta Thunberg da minha estante – Ninguém É Pequeno Demais Para Fazer A Diferença.
Num dos seus discursos, Thunberg diz que a esperança reside na nossa capacidade de rebelião, na recusa da nossa resignação ao esquecimento.
“Somos nós que fazemos a diferença”, disse a adolescente sueca aos jovens londrinos em abril de 2019. “Não devia ser assim, mas como não há mais ninguém a fazer nada, temos de ser nós a fazê-lo… Nunca deixaremos de lutar por este planeta, por nós próprios, pelo nosso futuro e pelo futuro dos nossos filhos e netos.”
Talvez seja este o único ponto em que ambas as escritoras – bem como Thunberg e os seus opositores – conseguem concordar: Vale a pena lutar pela nossa Terra.