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Boa parte dos envolvidos com futebol brasileiro ainda acha que a seleção não pode ter um técnico estrangeiro. Para os defensores da tese, os canarinhos são patrimônios nacionais. Devem ser comandados por um brasileiro nato e os técnicos do País, único pentacampeão do mundo, para orgulho supremo da pátria de chuteiras, tem tudo a ensinar e nada a aprender com quem nasceu e fez carreira fora dessas fronteiras.
Nada mais equivocado. E quem se beneficia desse erro brutal é a parte da elite de treinadores locais que adora a dolce vita do troca-troca no comando da seleção e dos principais clubes do País. E tem a espinha tomada por arrepios e a barriga por frios só de imaginar a concorrência ampliada nesse revezamento regado por centenas de milhares de reais mensais de salário, comissões e otras cositas más. Oligopólio profissional: pouca oferta para muita procura. E assim a vida segue, com um sendo trocado pelo outro entre os oito ou dez de sempre. Nada mais conveniente.
Técnicos estrangeiros devem assumir a seleção em todos os momentos em que houver consenso de que um deles for a melhor opção, pelo seu desempenho comparado ao dos locais, o escolhido aceitar o convite e CBF puder bancar o projeto em bases financeiras e éticas aceitáveis. Simples como isso.
Sempre que a ideia de trazer estrangeiro para comandar a seleção ou um clube vem à tona, técnicos brasileiros inflam o debate com o tema do reconhecimento precário, por parte da Fifa e dos países europeus, dos cursos, credenciamentos e diplomas realizados e emitidos no Brasil. Separemos os pontos: uma coisa é lutar pela correta valorização da formação oferecida aqui, que é boa, e outra, bem distinta, é tentar frear, a partir disso, o intercâmbio profissional de gente qualificada em postos importantes de nosso futebol, inclusive o de técnico da seleção.
Como em qualquer outro mercado, setor, atividade, empresa, universidade e espaço de gestão do País que contrata estrangeiros preparados para funções importantes, a exemplo do que ocorre todos os cantos civilizados e produtivos do mundo. Sim, claro, intercâmbio. Porque o discurso de que a atuação de técnicos estrangeiros no Brasil não gera aprendizado para seus colegas brasileiros é outro equívoco quase comovente.
Mais do que isso: treinadores de fora ensinam e também aprendem com os daqui. Há troca de conhecimento – e o ideal é que isso cresça cada vez mais. O português Jorge Jesus reconheceu que deveria ter ouvido mais atentamente seus auxiliares brasileiros antes de escolher os jogadores na disputa de pênaltis perdida para o Athetico Paranaense na Copa do Brasil 2019. O outro Jorge de fora, o argentino Sampaoli, faz consultas frequentes e discute caminhos com brasileiros da comissão técnica principal e líderes das categorias de base do Santos.
Renato Gaúcho, do Grêmio, está cotado para substituir Tite, provavelmente após a Copa do Qatar 2022. Parece justo: é vencedor, busca o jogo bem jogado, está mais maduro e conta, até o momento, com o apoio da grande maioria dos torcedores e da imprensa especializada.
O ideal para a seleção brasileira, é poder contar sempre com a melhor opção possível nos momentos de escolher o treinador que substituirá o que sair ou for saído. Se, respeitado esses critérios, a opção for brasileira, ótimo. Se for estrangeira, ótimo também. Elementar como isso – que, de resto, vale para as trocas de comando em qualquer organização importante do Brasil e do mundo. Não seria uma maravilha ter o Guardiola, o Zidane ou o Mourinho no seu time? Por que não na seleção?
O que é – e sempre será – imperdoável é a CBF pipocar e sucumbir, daqui para frente, à reação corporativa dos técnicos brasileiros quando não houver solução caseira conveniente para o momento.